Sem clima para a economia

Um vídeo que viralizou logo no início da pandemia mostra o fundador da Microsoft, Bill Gates, na conferência anual TED. Gates sobe ao palco empurrando um antigo cilindro de mantimentos da década de 1950, utilizado na guerra nuclear. Ao longo de oito minutos e vinte segundos, ele não falou sobre tendências da tecnologia ou empreendedorismo, se ateve a falar sobre o que considerava ser o maior risco que a humanidade corria nos dias atuais: uma pandemia. Era 2014.
Agora em 2021, Gates lança um livro e soma-se aos milhares de cientistas ao redor do planeta que alertam sobre o caos que a mudança do clima global vem gerando e gerará. Ao longo dos capítulos de Como Evitar um Desastre Climático, ele aponta os desafios e soluções possíveis para que uma hecatombe sem precedentes não se abata sobre o planeta e diz: “a crise climática terá efeitos muito mais devastadores que uma pandemia”.
Em 2020, o Fórum Econômico Mundial, em seu Relatório Global de Riscos, alertou que a mudança do clima em escala planetária é o maior risco para a economia mundial. O estudo, publicado anualmente antes do encontro em Davos, apontou pela primeira vez que todos os cinco principais riscos têm relação com o modelo de consumo e produção insustentáveis que a humanidade consolidou nos últimos séculos. Nada tão novo, afinal, cientistas e pesquisadores gritam isso há, pelo menos, quatro décadas. O próprio Fórum Econômico Mundial já vinha alertando para os riscos de uma epidemia em escala global impactar seus bolsos desde 2006. Em 2021, os riscos associados à emergência climática e a perda da biodiversidade mais uma vez apareceram em destaque, buscando alertar a diretoria do capitalismo mundial que seu modelo está levando o planeta ao esgotamento. Enquanto isso, o Brasil passa vergonha na Cúpula Mundial sobre Mudança do Clima e vê adiado o sonho de entrar na OCDE por conta do desmonte sistemático das políticas ambientais.
Caso nada seja feito para impedir esses efeitos, as 200 maiores empresas do mundo terão custos adicionais de US$1 trilhão. A conta vai muito além quando colocarmos governos e outras empresas na equação. A Europa já desenhou e começou a tirar do papel o seu Green New Deal, um esforço pós-pandemia, para redirecionar a economia e estruturar cadeias de valor de baixo carbono. A China e os Estados Unidos seguem a mesma direção. O Brasil, a nação mais megadiversa do planeta, ainda não compreendeu, ao menos o atual governo, o valor estratégico dessa riqueza. Prefere jogar todas as suas fichas em commodities que qualquer um pode fornecer. Em um planeta com o clima descontrolado, regiões superprodutivas se transformam em desertos e safras inteiras são dizimadas por eventos extremos.
Clima e economia estão entrelaçados. Não haverá no mundo, assim como na pandemia, uma só nação imune aos seus efeitos. E os mais pobres certamente sofrerão mais. A nós, foi reservada a dádiva da biodiversidade como oportunidade. Cabe a nós entender isso.
Artigo publicado originalmente no Diário Oficial do Município de Salvador no dia 01/06/2021
Posts recentes
- Batalha de rap sobre sustentabilidade dá R$ 3,9 mil em premiações, em Salvador
- André Fraga (PV) recebe reconhecimento nacional por contribuição à arborização urbana
- Vereador André Fraga sugere comemorar 50 anos do Parque de Pituaçu e 30 do Abaeté com reformas
- Fórum Coleta Seletiva Solidária reúne 13 cooperativas para discutir soluções para a reciclagem em Salvador
- André Fraga integra comissão que implementa cannabis medicinal no SUS, em Salvador
Comentários
- Sandra em Câmara de Vereadores aprova projetos que pedem melhorias na segurança do ciclista em Salvador
- Lourenço Mueller em Vereador André Fraga (PV) participa de reunião para criar Associação de Ciclistas de Salvador
- José Acácio ferreira em A árvore que ergueu impérios
- José Peroba Filho em A árvore que ergueu impérios
- Joctã Lima em A árvore que ergueu impérios
Arquivos
- setembro 2023
- agosto 2023
- julho 2023
- junho 2023
- abril 2023
- março 2023
- janeiro 2023
- novembro 2022
- outubro 2022
- setembro 2022
- julho 2022
- junho 2022
- maio 2022
- abril 2022
- março 2022
- fevereiro 2022
- janeiro 2022
- dezembro 2021
- outubro 2021
- setembro 2021
- agosto 2021
- julho 2021
- junho 2021
- maio 2021
- abril 2021
- março 2021
- fevereiro 2021
- agosto 2020
- julho 2020
- junho 2020
- maio 2020
- abril 2020
- março 2020
- fevereiro 2020
- dezembro 2019
- setembro 2019
- julho 2019
- janeiro 2019
- janeiro 2018
- outubro 2017
- setembro 2017
- julho 2017
- junho 2017
- julho 2016
- março 2016
- fevereiro 2016
- janeiro 2016
- dezembro 2015
- novembro 2015
- outubro 2015
- setembro 2015
- agosto 2015
- junho 2015
- maio 2015
- abril 2015
- março 2015
- fevereiro 2015
- janeiro 2015
- novembro 2014
- setembro 2014
- julho 2014
- junho 2014
- maio 2014
- fevereiro 2014
- janeiro 2014
- janeiro 2013
- junho 2012
- março 2012
- abril 2011