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- Antropoceno: Crise do Clima e Pandemias
Não se fala em outra coisa. Um ser que ninguém vê a olho nu, pode estar em todo lugar, tendo viajado o mundo inteiro e alterado a vida de famílias, cidades, estados e países. Um vírus originário da nossa relação, nada sustentável, com animais silvestres (nesse caso um morcego), se alastra de forma devastadora e, não podia ser diferente, se transformou na prioridade número zero para o planeta. Quem não se sentiu em um filme de ficção cientifica, naquela situação que ninguém imaginava realmente acontecer? A pandemia saiu do dicionário e virou verbete onipresente na TV, Jornais, Internet e conversas pelo celular, afinal não temos mais as conversas de bar. A consolidação e aprofundamento da chamada globalização, o mais alto índice de urbanização da história e uma desigualdade social que ainda nos envergonha (ou deveria), são ingredientes que transformaram o Corona Virus presente em todos os continentes. Porém, há um elemento fundamental nesse processo: não podemos deixar de lado que vivemos a Era do Antropoceno. Nossa era se caracteriza pelo impacto que o homem tem causado nos ecossistemas. Em prol do desenvolvimento econômico modifica de forma irreparável as condições climáticas no planeta, evidenciando um modelo de globalização e da exploração do ambiente já insustentável. Por outro lado, o COVID19 tem sido chamado de Vírus da “desglobalização”, em função da forma como governos de todo o mundo vêm reagindo para conter o avanço do contágio: fechar portos, aeroportos, estradas e rodoviárias. Uma outra reflexão importante é que a crise climática passou pra lista secundária de prioridades. É natural e necessário que o combate ao vírus seja a única prioridade do momento, mas como sairemos dessa grande confusão? O COVID19 está mostrando como subestimamos os impactos da crise climática, em especial, dos riscos à saúde que enfrentamos diariamente. A poluição do ar é uma das principais causas de mortes no mundo. De acordo com estudo publicado no European Heart Journal, ela foi a causa de 8,8 milhões de mortes em 2015, a partir de doenças cardiovasculares como ataque cardíaco e AVC, e já ultrapassa as causadas pelo consumo de tabaco que matou 7,2 milhões de pessoas em 2015, segundo dados da OMS. No Brasil, essas mortes aumentaram 14% em 10 anos. Em 2006, 38.782 morreram, número que pulou para 44.228 em 2016, de acordo com o estudo Saúde Brasil 2018. Internações por problemas respiratórios custaram R$ 1,3 bilhão ao SUS em 2018. Estudos recentes revelam que a infecção pelo Corona Vírus é maior em pessoas expostas ao cigarro e a poluição. Só na China, a poluição do ar matou 1,6 milhões de pessoas por ano e em todo o mundo 7 milhões. Durante este surto na China, em dois meses, cerca de 3200 pessoas morreram devido a poluição do ar, um número maior que o Covid-19. Essa pandemia traz lições que deverão nortear decisões futuras para a questão climática, modificando o comportamento humano frente aos riscos sanitários e ecossistemas naturais. Tudo está interconectado e a visão de saúde no Antropoceno deve considerar a perspectiva de uma saúde planetária. Já que estamos em casa, aproveitemos para cuidar do nosso quintal, pois a dengue não respeita quarentena. Já temos um desafio gigantesco pela frente e não precisamos de um mosquito pra nos atrapalhar, né?! Nelzair Vianna é Pesquisadora em Saúde Pública da Fiocruz e Doutora em Ciências pela FMUSP . André Fraga é Engenheiro Ambiental e Doutorando pela Faculdade de Medicina da USP. Artigo originalmente publicado na edição impressa do Jornal Correio* em 02/03/2020 #coroanvirus #climatechange #crisedoclima #pandemia #mudançaclimática
- Chegamos ao Ponto de Mutação?
Angustiado com o isolamento necessário para enfrentarmos esse organismo microscópico, mas entre reuniões digitais, afazeres domésticos e apoio a organizações sociais e grupos vulneráveis, consegui também me reencontrar com alguns grandes amigos. Amigos que moram aqui casa, e, mesmo assim, ficávamos algum tempo sem nos ver. Livros que moldaram minha forma de ver e entender o mundo. Entre eles, esses dias me reencontrei com, o Ponto de Mutação, Fritjof Capra. E foi um reencontro providencial. Capra ficou conhecido em 1975 quando lançou seu livro de estreia, já vendendo milhões de copias por todo o mundo. Mundo, que saia dos anos 60 onde a contracultura trouxe ideias de pacifismo, igualdade e amor. Físico com passagens por universidades tradicionais e renomadas do ocidente, se conectou com a sabedoria, o misticismo e as religiões orientais. Budismo, hinduísmo, taoísmo. O livro best seller foi o Tao da Física, onde ele conecta a física moderna à filosofia tradicional oriental. A ousadia de dizer que Newton e Descartes já não tinham as respostas para os desafios atuais e que a física moderna é muito mais próxima de ensinamentos milenares orientais, não passaria desapercebida. Parte da academia riu. Outra parte acreditou que tivesse enlouquecido. Mas milhões de pessoas o leram. O Tao, aquele símbolo que a gente conhece popularmente como Yin Yang e que dá nome ao livro, representa um princípio básico, mas que foi perdido, de acordo com Capra, em função da visão mecanicista da física ocidental clássica cartesiana, que separa e compartimentaliza tudo, e que influenciou todas as outras áreas do conhecimento: o equilíbrio. Ele mostra que, ao longo da história da humanidade, o Yang, a energia masculina, predominou gerando o patriarcado, o capitalismo e métodos de exploração e dominação. Esse excesso de energia Yang trouxe avanços, mas reprimiu a energia Yin, feminina, corpo-intuição. Essa repressão e desequilíbrio gera crises em função da devastação de florestas, polução de rios, do consumo ilimitado de recursos naturais, da desigualdade social, da escravidão humana e animal. Abre-se então, de forma necessária, mas também natural, espaço para o reequilíbrio entre as energias, e Yin, representada pela ecologia, cooperação e feminismo emerge, a partir de modelos sistêmicos e holísticos, para reequilibrar nossa forma de desenvolvimento, promovendo harmonia e sensibilidade na construção de um mundo mais justo, igualitário e sustentável. Entender a grande teia da vida, que cresce em todas as direções e se relaciona de infinitas formas, deixar o patriarcado de vez pra trás e olhar pra um futuro colaborativo e harmônico. Mas o amigo que reencontrei me apresentou tudo isso de uma maneira mais detalhada, ainda na faculdade de Engenharia Ambiental. Logo na Engenharia? Foi o segundo livro de Capra, que se chama O Ponto de Mutação. Nesse livro ele explora mais detalhadamente como em todas as frentes do conhecimento, o paradigma cartesiano nos trouxe até um momento de mutação. O nome do livro, mais uma vez vem de uma cultura oriental. É inspirado no I Ching, ou Livro das Mutações, conjunto complexo de textos clássicos chineses que foram reunidos ao longo da história. Pode ser estudado como um oráculo ou como um livro de sabedoria. O Ponto de Mutação vai mostrando como chegamos em crises na economia, na medicina, na psicologia em função da opção mecanicista cartesiana que fizemos, chegando definitivamente ao nosso momento de transformação. Em contraponto, ele segue defendendo uma visão holística e sistêmica, para darmos conta da complexidade real da teia da vida, e como as concepções mais modernas da física, em especial a quântica, trazem caminhos para um futuro equilibrado e harmônico, e se conectam com os ensinamentos milenares orientais. E, no meio de uma pandemia, algo que lá no fundo a gente nunca achou que ia acontecer, não podemos negar que tá tudo desequilibrado, né? E, podendo pensar um pouco sobre tudo, lembro que até alguns dias atrás um assunto vinha mobilizando milhares de jovens por todo o mundo, em grandes passeatas que reuniram dezenas de milhares de pessoas. Esse mesmo assunto transformou uma menina de 17 anos, na maior liderança pelo combate a crise climática das últimas décadas. Ela foi capa da revista Time, esteve no Fórum Econômico Mundial, em diversas conferencias da ONU, sentou-se com os maiores líderes globais e mega empresários e foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz. A força de Greta Thumberg residia na sua capacidade, sem igual nos últimos anos, de mobilizar pessoas fisicamente para ir as ruas e de se posicionar de forma firme. Greta trazia ainda uma forte simbologia. Uma mulher e jovem. Uma grande injeção de Yin para forçar o reequilíbrio. De repente tudo mudou. As cenas de ruas tomadas por pessoas exigindo ação firme de seus governos para impedir que o clima do planeta sofresse danos irreversíveis, por enquanto, ficarão como lembranças registradas em fotografias. A orientação para que todos fiquem em casa com o objetivo de retardar o contágio e não levar os sistemas de saúde ao colapso, não só fizeram com que Greta interrompesse sua ofensiva, mas também colocou a crise climática num segundo plano de prioridade. De alguma maneira, a evolução do problema também ficou em segundo plano, com forte impacto na vida e economia do planeta. E aí reside uma oportunidade. Mas não é isso que todas as crises representam? É bem provável que a desaceleração econômica provocada pela pandemia tenha um impacto equivalente ou maior do que a recessão global causada pela crise de 2008, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa globais em 2020 e talvez em 2021 ou 2022. Se seguíssemos a trajetória que tínhamos trilhando, dificilmente conseguiríamos segurar o aumento da temperatura do planeta abaixo dos 2 graus centígrados e evitar uma tragédia global ainda maior que a pandemia nos oferece agora. E essa oportunidade precisa ser aproveitada em todos os sentidos. Repensar investimentos em infraestrutura, as opções para a matriz energética global e a regulação de mercado financeiro. Reduzir desigualdades e redirecionar o desenvolvimento para um modelo menos economicista, baseado no crescimento infinito do PIB, e mais biológico, holístico e sistêmico, considerando o desdobramento multidimensional da vida e das nossas capacidades, não apenas econômicas, mas culturais, espirituais e intelectuais. Vivemos aquele momento em que temos a oportunidade de escolher um novo modelo, uma sociedade nova, mais colaborativa, harmônica e de baixo carbono. E nessa quarentena encontrei um novo amigo. E ele, já meio que conhecia O Ponto de Mutação. Comecei a ler Autobiografia de um Yogue, de Paramahansa Yogananda. André Fraga, é Engenheiro Ambiental e acha que Newton não percebeu tudo que tinha a ver com a queda da maçã. Artigo produzido por André Fraga originalmente publicado no site Muita Informação em 18/04/2020 #andréfraga #sustentabilidade #meioambiente #FritjofCapra #gretathumberg
- A crise já estava aqui
Como a crise climática, o tráfico e consumo de animais silvestres, o desmatamento e a produção de animais nos ajudam a entender porque o mundo parou com o novo coronavírus. O pangolim é um pequeno mamífero, de hábitos noturnos, que lembra fisicamente o nosso tatu. Come formigas e térmitas, as farejando até dois metros abaixo da terra e enchendo a barriga com até 70 mil formigas por ano usando uma língua do tamanho do seu corpo. Pra se proteger, emite um cheiro ruim e se enrosca, como nosso tatu bola, para usar suas escamas como barreira ao ataque inimigo. São oito espécies diferentes que vivem em zonas tropicais da Ásia e África. Ele está em risco de extinção e sua caça e venda são proibidos. O pangolim é o animal mais caçado e traficado do mundo. Se estima que represente cerca de 20% de todo o comércio ilegal de espécies selvagens e que na última década mais de um milhão tenha sido capturado. Um animal vivo rende escamas, que depois de tostadas, moídas e cozidas, são usadas na medicina tradicional chinesa para o tratamento de malária, surdez ou reumatismo. Cada quilo de escamas precisa de três ou quatro animais mortos. Um pangolim vivo chega a custar até 600 dólares, sendo a sua carne, geralmente ensopada com gengibre e citronela, muito procurada pelas elites endinheiradas para demonstrar status. Na China, é comum a existência de mercados onde se vende animais vivos, que escolhidos pelos compradores são abatidos, esquartejados e embalados alguns minutos depois. Os animais, das mais diversas espécies e portes, ficam em gaiolas amontoados e misturados de forma caótica, seres capturados em ecossistemas muito diferentes, entre si, trocam fluidos como sangue, fezes, urina e pus, o que, somado ao stress e baixa imunidade cria o ambiente ideal para a transmissão de vírus entre espécies. Até agora, o pangolim é um dos principais ¨suspeitos¨ de ter sido o hospedeiro intermediário do novo coronavírus através de uma interação forçada com morcegos no mercado de Wuhan, China. Pesquisa de cientistas de diversas universidades chinesas publicada na revista Nature, concluiu que o pangolim é um potencial hospedeiro intermediário para a COVD-19. Os cientistas analisaram pangolins-malaios (Manis javanica) resgatados do tráfico de animais e encontraram diversos vírus parecidos com o que está infectando humanos atualmente. Se o pangolim ainda é suspeito, por outro lado já há uma certeza: os morcegos carregam o coronavírus. Morcegos são conhecidos por serem hospedeiros de diversos vírus sem desenvolver as doenças. Eles foram os hospedeiros de outros dois tipos de coronavírus que já causaram problemas globais de saúde: o vírus da SARS (Síndrome respiratória aguda grave), que surgiu na China em 2002 e causou 800 mortes no mundo, e o da MERS (Síndrome respiratória do Oriente Médio), que também causou mortes quando surgiu na Arábia Saudita em 2012. Existem diversas cepas de coronavirus circulando, ou que já circularam entre os humanos: 229E, NL63, OC43, HKU, SARS COV, SARS-COV-2 e MERS-COV, com letalidades que chegam a 32%. A regra geral é que esses coronavírus precisam passar de um morcego para um hospedeiro intermediário, outro animal, e antes passar pela mutação necessária para infectar seres humanos. No caso da SARS, por exemplo, a civeta, outro mamífero de zonas tropicais, foi identificada como a hospedeira. As civetas são exploradas por exemplo para produzir café, vendido como elixir e também são facilmente encontradas nos mercados chineses. Já a MERS, provavelmente chegou nos humanos através de dromedários. Outra pesquisa, também publicada na revista Nature, demonstrou que o código genético do coronavírus que nos infecta é 96% semelhante aos que circulam em morcegos na China. Não só a interação forçada em mercados tem sido responsável pela transmissão zoonótica dos vírus. Em 1998, o desmatamento em uma região da Malásia fez com que morcegos começassem a migrar em busca de alimento e estabeleceram-se em uma nova região onde a produção de mangas se dava junto com a criação de porcos. Os morcegos comiam as mangas que, depois caíam em cima dos porcos, que também as comiam. Um vírus carregado pelos morcegos pulou para os porcos, passou por uma mutação e pulou para humanos. Desde então, pessoas estão morrendo na Malásia, Cingapura, Bangladesh e Índia do vírus nipah, nome de um vilarejo na Malasia onde os primeiros casos foram descobertos. O HIV veio dos chimpanzés e o Ebola também dos morcegos. Outra causa tem sido a crise climática, com o aumento médio da temperatura do planeta causada por nossas atividades. O ciclo reprodutivo de muitas plantas mudou em função da alteração do clima. Isso fez com que árvores frutíferas mudassem seu padrão e diversos animais, que antes não se cruzavam na natureza, busquem a mesma árvore para se alimentar. Podem comer a mesma fruta, trocar fluidos e depois se conectarem com humanos. Um pulo na transmissão do vírus causado por nós mesmos, pela redução drástica de seus habitats naturais, forçando uma convivência que não existia na natureza. Animais domesticados também nos apresentam novos vírus. Sarampo e tuberculose vieram da nossa relação com rebanhos de gado durante o processo de domesticação. A gripe e suas mutações vêm de aves, em especial dos frangos e porcos. Essa produção em escala de animais apresenta outro risco: algumas criações recebem altas doses de antibióticos, que ajudam na seleção de bactérias cada vez mais resistentes que depois são consumidas por humanos. Exploração de animais, desmatamento, mudanças climáticas, enfim: nosso modelo de desenvolvimento e consumo está em aguda crise há algum tempo e tem produzido surtos, epidemias e agora uma pandemia de escala inédita com efeitos sociais, ecológicos e econômicos. O planeta é um sistema. Nada acontece por acaso. E, cada vez mais alto, a ciência e a natureza vêm nos gritando que uma mudança de rota é nossa única opção. Nossa atual situação fala por si só. André Fraga é Engenheiro Ambiental e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana. #novocoronavírus #pandemias #animaissilvestres #china #pangolim
- Mercadores da Natureza
Como o dinheiro do terceiro maior mercado ilegal do planeta se conecta com a destruição de ambientes naturais criando um ambiente propício à transmissão de novos vírus a humanos A escala da pandemia que atingimos com o coronavírus revelou, entre muitas outras questões, o elo final de um mercado ilegal bilionário: o tráfico de animais silvestres. Os vírus que nos afetam, tem a sua origem em outros animais: aves, porcos, morcegos, dromedários e até mesmo vacas são ou já foram o elo entre nós e um vírus mortal para humanos. Mas, os animais silvestres têm sido a origem da maioria dos surtos, epidemias e agora a pandemia que vivemos nas últimas décadas. O coronavírus provavelmente tem origem em um morcego, mas passou por um pangolim (ameaçado de extinção e considerado o animal silvestre mais traficado do mundo), e chegou em humanos, provavelmente, em um mercado de animais vivos em Wuhan, na China. Mas, para entender o consumo de animais silvestres na China precisamos voltar a década de 1960. Entre 1958 e 1961, a China viveu uma crise de produção e abastecimento de alimentos conhecida como “A Grande Fome”. Se estima que, nesse período, cerca de 30 milhões de pessoas morreram em função de políticas estatais equivocadas na produção de alimentos, incluindo o incentivo a caça em massa de pardais pela população. Sem pardais, a dispersão de sementes não acontecia mais e os gafanhotos proliferaram, atacando ferozmente plantações. Considerando o desastre, o governo central foi, aos poucos, promovendo a descoletivização dos campos. A partir de então, camponeses começaram a criar animais silvestres em pequena escala, como forma de sustento tendo, inicialmente, o apoio do governo. Em 1988, a Lei Nacional de Proteção de Animais Silvestres, altera as regras e passa e classificar os animais selvagens como ¨Recursos Naturais da Propriedade do Estado¨, regulamentando quem já produzia esse ¨recurso¨, além de encorajar a domesticação e criação de animais silvestres. Surge, então, uma mega indústria, que reúne animais de ecossistemas distintos, em um mesmo espaço físico e que encobre o comércio ilegal de espécies ameaçadas de extinção como tigres, rinocerontes e pangolins. Não podíamos esperar nada diferente: em 2000, surge o primeiro surto da SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave causada pelo coronavírus, a SARS-CoV) na China, que infectou mais de 8.000 pessoas e foi a causa de mais de 750 mortes, em todo o mundo, antes de ser contido. Uma das primeiras medidas tomada pelas autoridades chinesas foi fechar os mercados onde esses animais são negociados. Meses depois de passado o surto, 56 espécies foram autorizadas a serem criadas, inclusive as civetas, animal hospedeiro da SARS. Entre 2004 e 2018, a indústria de criação de animais silvestres na China aumentou 40%, tendo seu consumo associado ao estilo de vida fitness, aumento da libido, melhorias estéticas e tratamentos de saúde através da medicina tradicional. A mesma medicina que hoje tem receitado pó de chifre de rinoceronte e bile de urso como remédio para tratar a COVID-19. No fim de fevereiro, o governo chinês divulgou a proibição temporária de toda a criação e o consumo de “animais silvestres terrestres de importante valor ecológico, científico e social”, mais uma vez. Policial observa civeta selvagem capturada por fazendeiro em Wuhan, na China Foto: AFP via Getty Images Por ser um mercado ilegal, as estimativas variam entre 10 e 15 bilhões de dólares por ano com relação ao movimento do tráfico de animais, subindo para o terceiro lugar no pódio de atividades ilegais do mundo, só perdendo para os tráficos de armas e de drogas. Já a participação do Brasil, varia de 5% a 70% do total mundial. Isto é, cerca de 38 milhões podem estar sendo retirados da natureza por ano só aqui. Desses, 90% são pássaros. Estima-se que de 10 animais traficados, apenas um sobreviva. Um movimento de até 2,5 bilhões de dólares. Em nossos vizinhos amazônicos, como Suriname e Bolívia, já se mapeou a caça de onças para abastecer o mercado chinês de medicina oriental que, antes, usava partes do tigre para curar desde ressacas a câncer. O preço final de uma onça na China, entre 2000 a 3000 dólares por animal, contrasta com o preço pago para caçadores no Suriname, fronteira com o Amapá, de 260 dólares, de acordo a uma investigação feita pela World Animal Protection. Se preferir, o caçador pode receber um carro novo ou 20 gramas de ouro. Desmembrada, cozida e seca, em um processo que leva até sete dias, a “pasta de onça”, creme negro, fica mais fácil de ser transportado ilegalmente em tubos e é usado para curar artrite, aumentar a vitalidade e eliminar toxinas do corpo. Os tubos chegam a custar 3 mil dólares e cada animal rende entre 20 a 30 tubos, enquanto garras e dentes custam entre 67 e 1 200 dólares, se adornados com ouro. Já a pele pode ser trocada por armas de fogo na fronteira ou vendida por 500 reais. Sim, reais, pois caçadores brasileiros já estão conectados ao tráfico internacional de animais silvestres, de acordo com indícios encontrados em pesquisa da WWF nas Guianas. Onça-pintada morta provavelmente para alimentar o mercado asiático. Foto: Proteção Animal Mundial Assim como na China, o mercado brasileiro legal de animais silvestres vem sendo usado também para encobrir atividade ilegal de retirada de animais da natureza. Uma investigação liderada pelo IBAMA, cruzou dados do sistema de informações alimentado pelos criadores legalizados com dados reunidos em operações de fiscalização e encontrou incompatibilidade em 80% das anilhas (anéis de identificação) dos animais. Ou seja, os animais identificados como nascidos e criados em cativeiro na verdade tinham sido capturados adultos na natureza. Além das fraudes, há ainda a forma branda com que são tratadas as penas para os traficantes, que ficam impunes dos crimes que cometem. A Lei de Crimes Ambientais (9.605 de 1998), criminaliza a conduta de “matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre” sem autorização, com pena de seis meses a um ano de prisão, mas não cita o tráfico de animais como crime. A prática corrente para crimes que preveem menos de quatro anos de prisão é aplicar penas alternativas, como serviços comunitários. Isso, faz da impunidade a regra. Traficantes presos reiteradas vezes pagam pequenas multas e seguem soltos cometendo os mesmos crimes, dilapidando a nossa biodiversidade. Foto: Veja O tráfico de animais no Brasil, se aproveitando da falta de informação da população quanto as regras de possuir animais silvestres como pets, se digitalizou nos últimos anos e passou, em parte, para as redes sociais. Em 2018, o IBAMA realizou uma operação na internet e encontrou 1277 animais à venda nas redes sociais, aplicou meio milhão de reais em multas, resgatou 13 animais e cumpriu mandados de busca e apreensão em 15 estados detendo 12 pessoas. Quase todas (85%) atuavam no Facebook, onde qualquer cidadão consegue encontrar facilmente anúncios de venda de animais silvestres. Para evitar a impunidade dos traficantes segue parado na Câmara dos Deputados, desde 2003, o projeto de lei 347 do Deputado Federal Zequinha Sarney do Partido Verde, que torna o tráfico de animais um crime qualificado. Apesar de tramitar em regime de urgência desde 2016, ele ainda não foi votado. Em paralelo, há uma proposta a ser votada pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) que pode piorar a situação: reduzir a documentação necessária para o transporte de animais no país. Outro elo cada vez mais precário são os Centros de Triagem de Animais Silvestres, os CETAS. Atualmente, estão na maioria dos casos, sob a responsabilidade do IBAMA, mas em negociação para que Estados assumam. É para esses centros que os animais são levados quando resgatados das mãos de traficantes para se recuperarem e, quando possível, serem devolvidos a natureza. O estado da maioria dos CETAS é de falta de equipes e infraestrutura precária. Na Bahia, a região de Feira de Santana, é uma das principais rotas de tráfico de animais do Brasil. Em 2005, a Comissão Parlamentar da Biopirataria listou 11 rotas rodoviárias de tráfico no País. Destas, seis tinham a Bahia como ponto de partida. A fauna rica, o vasto território cortado por muitas estradas e uma fiscalização precária contribuem para o quadro. O caso do CETAS em Salvador é emblemático. Por descumprimento de acordo entre IBAMA e INEMA (que não assumiu a rede de CETAS conforme os termos), o centro passou um período sem receber novos animais resgatados. O país vivia casos de febre amarela urbana e muitos macacos passaram a ser alvo de ataques da população, apesar de serem bioindicadores da existência do mosquito e não hospedeiros do vírus. Como o CETAS não recebia os animais resgatados pela Guarda Municipal, que possui um grupamento ambiental, um elo importante nas políticas de saúde pública foi interrompido. Atualmente, o CETAS segue em precariedade na capital baiana. Denunciada a situação pelo Partido Verde de Salvador ao Ministério Público Estadual, até hoje a investigação não apontou solução ou sequer ouviu as partes envolvidas. Foto: Arquivo pessoal Esse volume de animais sendo retirados de seus ambientes naturais desequilibra ecossistemas inteiros. Mudanças na frutificação de árvores e consequente redução da vitalidade e biodiversidade desses ambientes promovem migrações de espécies forçando uma convivência entre animais que não se encontrariam normalmente na natureza. Temos tudo que é necessário para o pulo de vírus para humanos. A natureza é uma grande rede. Nada acontece por acaso. Somos a nação que detém a maior biodiversidade do planeta. Algo que deveria ser considero fator estratégico segue sendo dilapidado com velocidade. Plantamos boi no lugar de florestas, que também podem ser chamadas de reserva incalculável de alimento para um dos pilares da nova economia: a biotecnologia. Entregamos nosso ouro por uns trocados em troca de boi e soja. Enquanto isso, iniciativas do Governo Federal buscam regularizar terras de grileiros e criminosos nos biomas brasileiros e uma fala sincera do anti-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, revelou o que já sabíamos: eles querem passar uma boiada em cima da floresta. #ecossistema #andréfraga #biodiversidade #sustentabilidade #coronavirus #meioambiente #animaissilvestres #animais #tráficodeanimais #pandemia #natureza #salvador
- Futuro sem senso
Enquanto o mantra da nova economia é data is the new oil, políticas públicas precisam recorrer à corporações privadas como Google e Waze para garantir dados, institutos públicos são sucateados e seguimos sem percepção, sem sentido, sem direção, sem senso. Tem pandemia, governo negacionista, centrão, emenda secreta em orçamento público, presidente fake news. Uma decisão que coloca o futuro do Brasil em segundo plano não mobilizou a força necessária para sua reversão. O adiamento do Censo 2020, ainda sem perspectivas de acontecer, contribuirá com a consolidação das injustiças e das desigualdades, além de ajudar esse governo que não tem apreço à democracia, a manipular números e dados, sem quaisquer questionamentos. Depois de garantir quase 6 bilhões de reais para o fundão eleitoral, deputados federais cortaram, com o aval do governo federal, quase 100% dos recursos para a execução do Censo 2020. Caiu de 2,3 bilhões de reais, para 53 milhões. Um troco que elimina qualquer possibilidade de atualização dos dados estatísticos mais importantes do país e nos deixa às cegas. A Constituição dos Estados Unidos, famosa por conter apenas temas fundamentais para o Estado, traz a exigência da realização de Censos a cada 10 anos. Nem a Guerra Civil impediu que a pesquisa fosse realizada. No Brasil, o primeiro recenseamento de relevância foi desenvolvido por Dom Pedro II em 1872, até que, em 1936, surge o IBGE que passou a empreender de forma mais organizada os levantamentos estatísticos nacionais. Como está a geração que ficou sem aulas na pandemia ou como desenvolver uma modelagem real e assertiva para o programa de concessões de setores da infraestrutura, como os de saneamento, se não sabemos como evoluiu o déficit no país na última década? Como desenvolver projeções sobre as demandas de energia que garantam investimentos privados? A não realização do Censo coloca o país em uma cegueira sem precedentes. Num momento em que a pandemia afetou a vida das pessoas, levando milhões à pobreza e à miséria, o levantamento seria um instrumento fundamental para projetar políticas públicas para enfrentar tais desafios. Perguntas que ficaram sem resposta, ou respostas que demorarão muito para serem respondidas. Talvez tarde demais. O IBGE já enfrenta dezenas de processos judiciais Brasil afora, em função de municípios que se sentem prejudicados por conta do prejuízo que a defasagem do Censo 2010 causa aos seus cofres, em virtude do repasse equivocado do Fundo de Participação dos Municípios, cujo principal critério de contabilização é o quantitativo populacional informado pelo IBGE. Conhecer os dados garante aplicação correta de dinheiro e possibilita mensurar o avanço de indicadores de políticas públicas. Um governo que descredencia dados de desmatamento da Amazônia e mortes na pandemia, revela a ignorância de quem desconhece o retorno de se investir na produção e promoção de dados estatísticos, como crescimento econômico, redução de desigualdades e melhoria da qualidade de vida. Com os baixos resultados de políticas públicas, não ter o que mostrar é combustível para o questionamento de métricas e a não realização de novos levantamentos. Mais uma forma de corroer a democracia. Artigo originalmente publicado no jornal Correio no dia 04/08/2020 #vereador #andréfraga #partidoverde #correio #educação #censo #ibge #governo #salvador
- Sem clima para a economia
Um vídeo que viralizou logo no início da pandemia mostra o fundador da Microsoft, Bill Gates, na conferência anual TED. Gates sobe ao palco empurrando um antigo cilindro de mantimentos da década de 1950, utilizado na guerra nuclear. Ao longo de oito minutos e vinte segundos, ele não falou sobre tendências da tecnologia ou empreendedorismo, se ateve a falar sobre o que considerava ser o maior risco que a humanidade corria nos dias atuais: uma pandemia. Era 2014. Agora em 2021, Gates lança um livro e soma-se aos milhares de cientistas ao redor do planeta que alertam sobre o caos que a mudança do clima global vem gerando e gerará. Ao longo dos capítulos de Como Evitar um Desastre Climático, ele aponta os desafios e soluções possíveis para que uma hecatombe sem precedentes não se abata sobre o planeta e diz: “a crise climática terá efeitos muito mais devastadores que uma pandemia”. Em 2020, o Fórum Econômico Mundial, em seu Relatório Global de Riscos, alertou que a mudança do clima em escala planetária é o maior risco para a economia mundial. O estudo, publicado anualmente antes do encontro em Davos, apontou pela primeira vez que todos os cinco principais riscos têm relação com o modelo de consumo e produção insustentáveis que a humanidade consolidou nos últimos séculos. Nada tão novo, afinal, cientistas e pesquisadores gritam isso há, pelo menos, quatro décadas. O próprio Fórum Econômico Mundial já vinha alertando para os riscos de uma epidemia em escala global impactar seus bolsos desde 2006. Em 2021, os riscos associados à emergência climática e a perda da biodiversidade mais uma vez apareceram em destaque, buscando alertar a diretoria do capitalismo mundial que seu modelo está levando o planeta ao esgotamento. Enquanto isso, o Brasil passa vergonha na Cúpula Mundial sobre Mudança do Clima e vê adiado o sonho de entrar na OCDE por conta do desmonte sistemático das políticas ambientais. Caso nada seja feito para impedir esses efeitos, as 200 maiores empresas do mundo terão custos adicionais de US$1 trilhão. A conta vai muito além quando colocarmos governos e outras empresas na equação. A Europa já desenhou e começou a tirar do papel o seu Green New Deal, um esforço pós-pandemia, para redirecionar a economia e estruturar cadeias de valor de baixo carbono. A China e os Estados Unidos seguem a mesma direção. O Brasil, a nação mais megadiversa do planeta, ainda não compreendeu, ao menos o atual governo, o valor estratégico dessa riqueza. Prefere jogar todas as suas fichas em commodities que qualquer um pode fornecer. Em um planeta com o clima descontrolado, regiões superprodutivas se transformam em desertos e safras inteiras são dizimadas por eventos extremos. Clima e economia estão entrelaçados. Não haverá no mundo, assim como na pandemia, uma só nação imune aos seus efeitos. E os mais pobres certamente sofrerão mais. A nós, foi reservada a dádiva da biodiversidade como oportunidade. Cabe a nós entender isso. Artigo publicado originalmente no Diário Oficial do Município de Salvador no dia 01/06/2021 #billgates #vereador #andréfraga #meioambiente #economia #clima #covid19 #salvador
- Um oceano de oportunidades
O maior habitat do planeta está cada vez mais sendo afetado pela mudança global do clima. Os oceanos desempenham um papel fundamental no equilíbrio planetário, seja por produzir 70% do nosso oxigênio, seja por absorver e estocar boa parte do carbono ou por sustentar importantes setores econômicos, Cientistas defendem a necessidade de protegermos ao menos 30% da superfície marinha, mas alertam para a inexistência de um acordo internacional visando a criação de santuários em águas internacionais garantindo emprego e renda a milhões de pessoas. Eles regulam a temperatura global e, por isso, devemos ficar preocupados, pois o seu desequilíbrio é, ao mesmo tempo, causa e efeito da emergência climática planetária. As águas superficiais estão mais quentes, o nível do mar está aumentando em função do derretimento do gelo nos pólos (em fevereiro de 2020, a Antártica registrou 20.7ºC de temperatura, a maior desde que iniciaram as medições). A temperatura de correntes marinhas alterada produz efeitos no transporte de nutrientes e na produção de oxigênio, mudanças nos ciclos oceânicos que potencializam fenômenos como o El Niño, La Niña e eventos climáticos extremos como furacões e tufões, além da acidificação das águas que afeta significativamente os recifes de corais (90% das espécies podem desaparecer). Zonas costeiras abrigam 28% da população mundial, cerca de 2 bilhões de pessoas que têm suas vidas influenciadas direta ou indiretamente pelos ecossistemas marinhos. De acordo com o Relatório Especial sobre o Oceano e a Criosfera em um Clima sob Mudança, produzido pelo Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas, 170 milhões de toneladas de frutos do mar são extraídos todos os anos para consumo humano, um outro problema que afeta diretamente a biodiversidade marinha. O relatório indica que o nível médio global do mar pode aumentar em 1,1 metro até 2100, no pior cenário de aquecimento, o que trará consequências incalculáveis para as vidas de 700 milhões de pessoas. Estoques pesqueiros, já muito ameaçados pela pesca comercial em larga escala, também sofrem impacto direto, por conta da migração de cardumes para regiões mais frias, desequilibrando a cadeia alimentar e reduzindo populações locais de espécies com potencial econômico e, até mesmo, levando à extinção. O desequilíbrio do oceano afeta até mesmo a agricultura, por alterar o regime de chuvas nos continentes. O Relatório da Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO, de 2019, apontou que apenas 1% dos orçamentos nacionais para pesquisas é direcionado para os oceanos e estima que somente 19% do seu fundo já foi mapeado e catalogado. A ONU declarou que de 2021 a 2030 será a Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável – mais conhecida como Década do Oceano, e pretende mobilizar cientistas, gestores, políticos e sociedades para protegerem o oceano que, apesar de cobrir 71% da superfície do planeta Terra, é pouco conhecido e conservado (apenas 3% de sua área é protegida). Uma ação fundamental é criar áreas protegidas e livres de atividades econômicas destrutivas, áreas que não pertencem a nenhum país. Por isso, um movimento global que já conta com apoio de diversos países têm se formado para a criação de um Tratado Global dos Oceanos, com o objetivo de criar ferramentas legais que permitam a proteção dessas áreas. Salvador criou recentemente o Parque Marinho da Barra, e está em curso a criação do Parque Marinho da Cidade Baixa, os primeiros santuários marinhos da cidade. Mais de 3 bilhões de pessoas dependem dos oceanos, que são responsáveis por 30 milhões de empregos diretos, gerando US$ 3 trilhões de doláres por ano, o que classificaria, em termos econômicos, como a 5ª economia do mundo. E é nessa perspectiva, da economia do mar, que a recuperação de habitats como manguezais, restingas e vegetação submersa devem ser encaradas como oportunidades de geração de mais emprego e renda. O ecoturismo é outro grande potencial ainda pouco explorado, seja com o mergulho, seja com avistamento de baleias e outros animais marinhos. As praias perdem bilhões por ano por poluição plástica e de esgotos. Os oceanos podem ainda gerar energia limpa por ondas e marés, contribuindo para a criação de mais oceantechs, para não perder o bonde da digitalização e da inovação da economia global. A Amazônia Azul é um oceano de oportunidades. Dá para virar a página da crise. É só querer e agir. Artigo originalmente publicano no site MAR BAHIA no dia 08/06/2021.08 #vereador #andréfraga #partidoverde #onu #BTS #baíadetodosossantos #amazoniaazul #salvador #oceanos
- Energia solar: emprego, economia e meio ambiente
Não é mera coincidência que a maior inflação de maio dos últimos 25 anos aconteça junto da maior crise hídrica dos últimos 91 anos no Brasil. As evidências científicas demonstram que a mudança global do clima já afeta os brasileiros: a crise hídrica prejudica o sistema elétrico nacional, 60% baseado em hidrelétricas. A seca esvaziou os reservatórios, forçando o País a ligar termelétricas fósseis, mais caras e poluentes. O resultado é um pesado aumento na conta de luz, levando a inflação da energia elétrica a 5,37%, sendo a principal responsável pelo aumento do IPCA. Mas há soluções. Segundo dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), desde 2012, o setor já gerou mais de 292 mil novos empregos, via R$ 51,2 bilhões em investimentos, que garantiram R$ 14,4 bilhões em tributos ao setor público, evitando a emissão de 10,7 milhões de toneladas de CO2. A Bahia é o 2º maior estado em grandes usinas solares, mas ainda ocupa o 10º lugar em pequenos e médios sistemas em telhados (geração distribuída). Está atrás de estados com menor recurso solar e tamanho inferior a 20% do seu território. Já Salvador lançou, em 2018, numa parceria com a ABSOLAR, o IPTU Amarelo, que concede descontos para residências com geração solar fotovoltaica. Desde então, a cidade deu um salto de 6,5 para 17,9 megawatts em potência instalada, liderando com folga os indicadores de geração distribuída no estado. Desde 2012, foram quase R$ 100 milhões investidos, que geraram 530 novos empregos e mais de R$ 23 milhões em arrecadação de tributos. Na Câmara Municipal de Salvador, tramitam dois projetos que, se aprovados pelos vereadores e implementados pelo executivo, serão estratégicos ao desenvolvimento da energia solar. O PL 220/221, propõe que a prefeitura amplie incentivos e crie um programa mais robusto para a energia solar. Já o Projeto de Indicação 440/221, sugere ao governador da Bahia, Rui Costa, a criação de um novo convênio ICMS no Conselho Nacional de Política Fazendária, autorizativo e por adesão, para: (i) adequar o benefício a todas as componentes da tarifa de energia elétrica; (ii) aplicar o benefício a todas as modalidades de microgeração e minigeração distribuída; e (iii) adequar a faixa de potência do benefício para a minigeração: maior que 75 KW e menor ou igual a 5 MW. Com isso, a Bahia terá as mesmas condições que já são dadas hoje por Minas Gerais, líder na geração distribuída no Brasil. Fundamental também superar dificuldades com a concessionária de energia elétrica, como descumprimentos de prazos regulatórios, que geram entraves aos negócios e suas operações. A partir do sol é possível gerar ainda mais empregos, renda e negócios. De forma distribuída, mais democrática e mais justa. André Fraga é engenheiro ambiental, vereador de Salvador e vive na primeira residência certificada pelo Programa IPTU Amarelo de Salvador. Rodrigo Lopes Sauaia é presidente executivo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), doutor em Engenharia e Tecnologia de Materiais, mestre em Energias Renováveis e bacharel em Química. Artigo publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 25/08/2021 #andréfraga #partidoverde #sustentabilidade #energiasolar #absolar #salvador
- Por que aqui não?
Depois de sair de uma reunião com lideranças indígenas Tuxá em Paulo Afonso, pegamos a estrada em direção a Uauá. Era 2010 e o deputado federal, Edson Duarte, concorria ao Senado pelo Partido Verde da Bahia. Fim de tarde, paramos em Petrolândia, Pernambuco, para abastecer o carro. Enquanto o tanque enchia, o frentista, surpreso, perguntou: “Vocês vão pegar essa estrada aí, a essa hora? Tem certeza? Aí é o polígono da maconha, nem a polícia federal entra aí à noite. Se eu fosse vocês, dormiria por aqui e saía pela manhã”. Seguimos a sugestão. O polígono da maconha é uma região composta por cidades do Sertão da Bahia e de Pernambuco, às margens do Rio São Francisco, onde 30% da planta que abastece os centros brasileiros é produzida. A região, que sofre com a falta de investimentos em educação, saúde e agricultura, possui uma superintendência da Polícia Federal, presídio e gasta milhões todos os anos para combater o plantio de maconha, que segue sendo cultivada, expandindo as roças para o Maranhão e o nordeste do Pará, região conhecida já como o Quadrado da Maconha. Quando a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) discutiu autorizar o plantio para fins de pesquisa e medicinais, o governo se opôs e a agência liberou apenas a importação de insumos para fabricação do medicamento em território nacional. Enquanto aqui, plantar a Cannabis ainda é crime, enquadrado como tráfico de drogas, e tem pena de até 20 anos de cadeia, países ao redor do planeta já entenderam que, além de gerar impostos, empregos e negócios, a regulamentação do plantio, consumo e produção de derivados, de têxteis à fármacos, ajuda a reduzir a criminalidade e seus efeitos colaterais. Em 2020, a indústria canábica nos EUA atingiu a marca de 21 bilhões de dólares. Um crescimento de 48% na comparação com 2019. Só em 2021, empresas desse mercado valorizaram suas ações em 50%, 144% e até 251%. Lá, pesquisa realizada pelo Leafly Jobs Report em parceria com a Whitney Economics, mostrou que 321 mil trabalhadores estão empregados na cadeia produtiva da maconha, número que já supera a quantidade de dentistas, paramédicos ou engenheiros elétricos no país. Em Nova York a legislação recém aprovada determina que, dos impostos estaduais, 40% serão reinvestidos em comunidades com presença de minorias afetadas pela política de guerra às drogas. Outros 40% serão usados na educação e 20% num fundo que financia tratamento de dependência de drogas e educação pública. A cannabis medicinal tem sido usada com sucesso no tratamento de doenças crônicas graves, como epilepsia, Alzheimer, Parkinson, ansiedade e depressão. Segundo dados da Anvisa, até 13 milhões de brasileiros com diferentes enfermidades podem se beneficiar da maconha medicinal. O relatório ‘Cannabis para Fins Medicinais’, da empresa Kaya Mind, mostra que o mercado da maconha medicinal no Brasil movimentou, de janeiro a junho de 2021, R$ 21,8 milhões. Entre 2015 e 2020, as solicitações para importação e renovação de medicamentos à base da planta cresceram 1.780% no país. Projeções reveladas no relatório da Prohibition Partners, mostram que a venda de Cannabis medicinal pode movimentar mais de R$ 2 bilhões até 2025 no Brasil. Enquanto Bolsonaro fala que vai vetar o PL 399 que, nas palavras dele, “libera a maconha”, o banco fundado pelo seu ministro Paulo Guedes lançou uma nova opção de investimento: um fundo ligado à indústria da cannabis no exterior, principalmente nos EUA. Nosso dinheiro pode gerar emprego, renda, impostos e bem estar para milhões de pessoas que usam a medicação lá nos EUA. E por que aqui não podemos regulamentar o plantio de cannabis para fins medicinais, científicos e industriais, gerar bem estar, negócios, emprego e renda? André Fraga é Engenheiro Ambiental, Vereador de Salvador e Presidente da Comissão Especial de Emergência Climática e Inovação na Câmara Municipal Artigo publicado originalmente no Jornal Correio no dia 13/01/2022 #cannabis #maconha #medicinal #saúde
- COVID-19, inovação e (des)igualdade
11 de março de 2020. A Organização Mundial da Saúde (OMS) declara, oficialmente, que enfrentamos uma pandemia. O vírus que se alastrou pelo planeta teve seu primeiro caso reportado pela China no dia 11 de janeiro. Apenas três meses antes. Então o mundo entrou em uma espiral de acontecimentos do qual não havia mais memória coletiva. Era tudo novo. Mortes e infecções cresciam exponencialmente, e não sobrou um canto do planeta onde o novo coronavírus não tenha chegado. No mesmo ano, 10 meses depois, a britânica Margaret Keenan, uma simpática joalheira aposentada de 90 anos, recebeu a primeira vacina contra o vírus no braço. A inovação e a velocidade com que a primeira vacina foi desenvolvida, e a sequência de novos imunizantes fazem com que a pandemia de Covid-19 também entre para a história. O recorde anterior era a vacina da caxumba: 4 anos. Outras vacinas levaram décadas para serem desenvolvidas. Diversos fatores propiciaram que essa revolução acontecesse. A nossa rede de comunicação permite uma colaboração sem precedentes na história. O sequenciamento do genoma do vírus foi recorde. Concluído em janeiro de 2020, as pesquisas já estavam em curso antes mesmo da OMS declarar oficialmente a pandemia. Além disso, estudos em desenvolvimento para outras doenças, como a Zika e a Sars, foram adaptados para Covid-19, como foi o caso da tecnologia que gerou a primeira vacina, o RNA mensageiro. Foi essa colaboração que permitiu ao soteropolitano Wanderson Nascimento Souza receber a primeira vacina brasileira em teste contra a Covid-19. A vacina foi aplicada na sede do Senai Cimatec, um centro internacionalmente respeitado, localizado na capital de um estado nordestino de um país em desenvolvimento. Ciência! Outras oito vacinas estão em fase de pesquisa no Brasil. Vivemos a quarta revolução industrial caracterizada pela convergência de tecnologias. É quando a realidade começa a se parecer com aqueles filmes de ficção científica. Mas o potencial de produzir benefícios ao planeta não pode se perder pela concentração de poder e dinheiro cada vez menos acessíveis às pessoas e organizações. O surgimento constante de novas variantes tem entre suas origens a distribuição desigual de vacinas. Enquanto alguns países vacinam turistas, outros sequer imunizam seus idosos. Se continuar no ritmo atual, a Guiné-Bissau levará 43 anos para vacinar 70% de sua população. No Haiti, a imunização chegou apenas a 0,6% da população. Variantes como delta e ômicron não causaram mais danos porque nossas vacinas chegaram para muita gente. Mas é preciso que cheguem para todos. Sem democratizar, a inovação servirá a poucos, e pandemias como a que vivemos poderão ser a regra. *André Fraga é Engenheiro Ambiental, Vereador no Município Salvador e Presidente da Comissão Especial de Emergência Climática e Inovação na Câmara Municipal de Salvador. ** Artigo publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 20 de janeiro de 2022. #covid #desigualdade #inovação
- Mudança do Clima: engenharias, agronomia e geociências
Até alguns dias atrás o mundo estava reunido na 26ª Conferência das Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas para Mudança do Clima, a COP26. Nunca antes, uma conferência de clima (e essa foi a 26ª), teve tanta cobertura da mídia e tanto espaço nos debates. Em um planeta assolado por uma pandemia que não dá sinais de que se encerrará tão cedo, com novas variantes surgindo sem parar, as atenções e energia de chefes de Estado, cientistas, ativistas e lideranças internacionais estavam naquele momento dedicados a buscar consensos para frear o avanço da emergência climática. E não foi fácil. Consenso entre mais de 100 representações, com economias e perspectivas distintas é um desafio e tanto. E, no final, as perguntas de sempre são: quem vai pagar a conta? Como os países mais ricos compensarão os países mais pobres? Como fazer com que a mudança do clima não seja mais uma forma de aprofundar as desigualdades? Que mecanismos econômicos ajudarão esses objetivos? A mudança do clima já é um fato. Não se trata mais de pensar em como será no futuro, pois já acontece. Incêndios florestais cada vez mais agressivos, potencializados por períodos de estiagem mais longos, já passam a mensagem do pantanal, no Brasil, a Califórnia, nos Estados Unidos. Cidades ao redor do planeta que antes recebiam pouca intensidade de chuvas, agora são atingidas por temporais com força. No último ano, causou estragos físicos e perda de vidas em cidades como Nova York que enfrentou o ano mais chuvoso da sua história. Em Vancouver choveu tanto que a cidade ficou isolada por inundações. Na Alemanha e Bélgica, em 2021, quase 200 pessoas morreram. Chuvas acima da média na província de Shanxi, no norte da China, fizeram com que 120.000 pessoas fossem evacuadas de suas casas. Enquanto a chuva inunda cidades, no Brasil vivemos uma crise hídrica sem precedentes em mais de 90 anos, reduzindo drasticamente a geração de energia, forçando a operação de termelétricas poluentes e caras, e pressionando a inflação, que corrói a renda dos mais pobres. O colapso da biodiversidade é mais um efeito colateral da emergência climática, mas esse pode ser fatal e causar o que cientistas têm chamado de “a sexta extinção em massa do planeta Terra”. Em uma análise a partir de 73 estudos de longo prazo sobre o declínio de insetos ao redor do mundo, pesquisadores australianos e chineses perceberam que os insetos estão caminhando para a extinção, o que nos levaria a um “colapso catastrófico dos ecossistemas da natureza”. A conclusão é de que mais de 40% das espécies de insetos estão sofrendo quedas populacionais em um ritmo constante e a uma velocidade oito vezes maior, em média, do que a dos mamíferos, aves e répteis. Estudo publicado na Science analisando dados, desde 1989, de pesquisas de campo na Alemanha, constatou que a biomassa de insetos que fica presa em equipamentos de captura diminuiu 80%. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), abelhas ou outros insetos são necessários na polinização de cerca de 84% das plantas que comemos. Diversas são as causas apontadas desse declínio: a urbanização, a agricultura intensiva, o uso de pesticidas e as mudanças climáticas que alteram, por exemplo, os períodos de sincronia entre a floração das plantas e a chegada ou a eclosão dos insetos. Sem eles, o colapso da cadeia alimentar, causado por uma cascata trófica de baixo para cima, atingirá desde predadores até as plantas, aniquilando ecossistemas inteiros, com prejuízos econômicos incalculáveis. Os desafios são inúmeros e eles poderão ser vencidos se soubermos explorar a exponencial capacidade que a inovação possui de gerar soluções. E aqui, as engenharias, a agronomia e as geociências têm papel de destaque. Pensar sistemas alimentares de alta produtividade que não prejudiquem o solo ou a biodiversidade, projetar equipamentos que integrem algoritmos e IOT, promover mais conhecimento dos sistemas que mantêm a vida no planeta, escalar novas formas de energia renováveis, são apenas alguns dos caminhos possíveis. Nos últimos séculos a engenhosidade humana nos permitiu avançar em diversas frentes, e isso é inegável. Essa engenhosidade agora é fundamental para nos salvar. Artigo publicado originalmente na revista do CREA-BA em 2021 #clima #crea #engenharia #mudanças
- Um oceano de oportunidades
O maior habitat do planeta está cada vez mais sendo afetado pela mudança global do clima. Os oceanos desempenham um papel fundamental no equilíbrio planetário, seja por produzir 70% do nosso oxigênio, seja por absorver e estocar boa parte do carbono ou por sustentar importantes setores econômicos, Cientistas defendem a necessidade de protegermos ao menos 30% da superfície marinha, mas alertam para a inexistência de um acordo internacional visando a criação de santuários em águas internacionais garantindo emprego e renda a milhões de pessoas. Eles regulam a temperatura global e, por isso, devemos ficar preocupados, pois o seu desequilíbrio é, ao mesmo tempo, causa e efeito da emergência climática planetária. As águas superficiais estão mais quentes, o nível do mar está aumentando em função do derretimento do gelo nos pólos (em fevereiro de 2020, a Antártica registrou 20.7ºC de temperatura, a maior desde que iniciaram as medições). A temperatura de correntes marinhas alterada produz efeitos no transporte de nutrientes e na produção de oxigênio, mudanças nos ciclos oceânicos que potencializam fenômenos como o El Niño, La Niña e eventos climáticos extremos como furacões e tufões, além da acidificação das águas que afeta significativamente os recifes de corais (90% das espécies podem desaparecer). Zonas costeiras abrigam 28% da população mundial, cerca de 2 bilhões de pessoas que têm suas vidas influenciadas direta ou indiretamente pelos ecossistemas marinhos. De acordo com o Relatório Especial sobre o Oceano e a Criosfera em um Clima sob Mudança, produzido pelo Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas, 170 milhões de toneladas de frutos do mar são extraídos todos os anos para consumo humano, um outro problema que afeta diretamente a biodiversidade marinha. O relatório indica que o nível médio global do mar pode aumentar em 1,1 metro até 2100, no pior cenário de aquecimento, o que trará consequências incalculáveis para as vidas de 700 milhões de pessoas. Estoques pesqueiros, já muito ameaçados pela pesca comercial em larga escala, também sofrem impacto direto, por conta da migração de cardumes para regiões mais frias, desequilibrando a cadeia alimentar e reduzindo populações locais de espécies com potencial econômico e, até mesmo, levando à extinção. O desequilíbrio do oceano afeta até mesmo a agricultura, por alterar o regime de chuvas nos continentes. O Relatório da Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO, de 2019, apontou que apenas 1% dos orçamentos nacionais para pesquisas é direcionado para os oceanos e estima que somente 19% do seu fundo já foi mapeado e catalogado. A ONU declarou que de 2021 a 2030 será a Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável – mais conhecida como Década do Oceano, e pretende mobilizar cientistas, gestores, políticos e sociedades para protegerem o oceano que, apesar de cobrir 71% da superfície do planeta Terra, é pouco conhecido e conservado (apenas 3% de sua área é protegida). Uma ação fundamental é criar áreas protegidas e livres de atividades econômicas destrutivas, áreas que não pertencem a nenhum país. Por isso, um movimento global que já conta com apoio de diversos países têm se formado para a criação de um Tratado Global dos Oceanos, com o objetivo de criar ferramentas legais que permitam a proteção dessas áreas. Salvador criou recentemente o Parque Marinho da Barra, e está em curso a criação do Parque Marinho da Cidade Baixa, os primeiros santuários marinhos da cidade. Mais de 3 bilhões de pessoas dependem dos oceanos, que são responsáveis por 30 milhões de empregos diretos, gerando US$ 3 trilhões de doláres por ano, o que classificaria, em termos econômicos, como a 5ª economia do mundo. E é nessa perspectiva, da economia do mar, que a recuperação de habitats como manguezais, restingas e vegetação submersa devem ser encaradas como oportunidades de geração de mais emprego e renda. O ecoturismo é outro grande potencial ainda pouco explorado, seja com o mergulho, seja com avistamento de baleias e outros animais marinhos. As praias perdem bilhões por ano por poluição plástica e de esgotos. Os oceanos podem ainda gerar energia limpa por ondas e marés, contribuindo para a criação de mais oceantechs, para não perder o bonde da digitalização e da inovação da economia global. A Amazônia Azul é um oceano de oportunidades. Dá para virar a página da crise. É só querer e agir. Artigo originalmente publicano no site MAR BAHIA no dia 08/06/2021.08 #clima #mar #oceano












