Reciclar, incluir e multiplicar

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Artigo originalmente publicado na edição de 14/05/2014 do Jornal Correio.

A destinação adequada dos resíduos sólidos é um dos principais desafios da atualidade, em especial para as grandes cidades brasileiras. Associado ao custo para coletar e destinar os resíduos de cada dia dos seus moradores, há um passivo educacional de enormes proporções, que faz ainda mais desafiadora a missão dos governos municipais em lidar com essa agenda.

Antes de tudo é essencial que superemos o conceito de lixo. Lixo passou a ser uma categoria histórica e quer dizer resíduo descartado após o consumo, considerado matéria sem valor ou utilidade para novos usos. Na atualidade porém, o avanço tecnológico faz com que esses resíduos, antes sem valor ou uso, passam a ser matéria prima para a industria, gerando valor comercial, emprego, renda e uma nova economia que gira e cresce ano após ano.

Outro ponto importante é entendermos que a sociedade gerou o catador de rua, mas a rua é o pior espaço para essas pessoas. Trabalhar carregando peso debaixo de sol e chuva, disputando espaço com carros, motos e ônibus, inalar o gás carbônico emitido por eles. Não adianta melhorar instrumentos de trabalho como carrinhos elétricos ou protetor solar, é preciso cooperativar e retirar as pessoas desse trabalho indigno, sem garantias legais ou trabalhistas. Não faz sentido reformar péssimas condições de trabalho e mantê-los na pobreza, mas sim investir na nova imagem de um trabalhador protegido e especializado, dono do seu próprio negócio – a reciclagem, de forma associativa. Esses catadores, a partir da triagem, tornam-se empreendedores, e se integram ao mercado, gerando uma nova economia.

Com o advento da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei Federal 12.305/2010), governos, empresas e o cidadão passam a compartilhar a responsabilidade da destinação adequada dos resíduos. Outros princípios como a logística reversa e a coleta seletiva entram definitivamente na pauta e passam a estruturar novas cadeias produtivas e econômicas, que geram riqueza e postos de trabalho.

Em Salvador a Prefeitura de Salvador está desenvolvendo o planejamento integrado e participativo envolvendo cooperativas, empresas, órgãos públicos de todas as esferas e sociedade civil, para a implementação de uma política consistente de coleta seletiva para a cidade, que fique e se aperfeiçoe ai longo do tempo.

Se considerarmos os números de nossa capital, temos uma média mensal de 74.693,21 toneladas de resíduos coletados.  A partir de um estudo gravimétrico desenvolvido pela LIMPURB sabemos que em Salvador 46,37% do que se coleta é potencialmente reciclável o que nos dá 34.635,24 toneladas mensais ou 1.385,41 tonelada por dia. Se alcançarmos 10% de reciclagem e um valor médio de mercado do kg de material por R$ 0,33, teremos um valor de comercialização gerado de R$ 2.464.875,85 por mês. Esse valor pode gerar renda de mais de dois salários mínimos para mais de 1000 cooperativado. Atualmente em Salvador é raro um cooperativado alcançar renda de um salário mínimo. Há ainda a economia para a gestão, que deixará de ter custo com a destinação desse material, assim como para o meio ambiente, pois aumenta a vida útil do aterro e reduz as emissões dos gases de efeito estufa. Enfim reciclar é incluir e multiplicar.

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