Prejuízo Global

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Artigo originalmente publicado na edição de 10/02/2016 do Jornal A Tarde.

O registro de ocorrência de desastres entre os anos de 2002 a 2012 aumentou 40%, de acordo com a segunda edição do Atlas Brasileiro de Desastres Naturais. Esses desastres invariavelmente ocorrem nas cidades, espaço onde atualmente vive metade da população mundial. Em 2050, a ONU estima que seremos 70% de seres urbanos. Os efeitos das mudanças climáticas globais, antes algo intangível para a maioria, começam a se mostrar de forma dramática. A face mais visível é o aumento considerável da ocorrência de eventos climáticos extremos: chove em um dia o previsto para chover em um mês, causando deslizamentos e alagamentos, ou uma seca se prolonga e devasta os mananciais de água fazendo do racionamento a rotina, além de impactar a biodiversidade da fauna e flora. A seca e o racionamento de água em São Paulo ou as chuvas em Salvador em 2015 são exemplos de eventos climáticos extremos.

Outro efeito, não menos importante é a mudança no comportamento dos oceanos. O aquecimento do planeta ajuda a descongelar as calotas polares, aumentando o nível do mar, o que coloca em risco as cidades litorâneas e decreta a extinção de alguns países-ilha, criando gerações de refugiados do clima. Além de subir de nível, os oceanos estão esquentando, causando uma queda sem previsão da biodiversidade marinha, afetando o sistema pesqueiro e os recifes de corais. Impactos na economia das cidades são incalculáveis: turismo, alimentação, pesca, sobrecarregamento do sistema de saúde, desemprego.

Em 2013 a revista científica Nature publicou um estudo alertando que o custo mundial das inundações nas cidades poderia aumentar para US$ 1 trilhão por ano até 2050, caso uma atitude não seja tomada imediatamente para reduzir as emissões. Os países e cidades mais vulneráveis são invariavelmente as que possuem menos recursos financeiros e estruturais para combater esses efeitos, mas não há fronteiras para o aquecimento global. A ONU revelou, em seu informe Perspectivas Mundiais de Urbanização 2014, que 828 milhões de habitantes vivem em favelas, e esse número aumenta todo ano com o ingresso de, ao menos, mais seis milhões de pessoas. Os mais ricos também enfrentarão sérios problemas como mostra artigo da revista estadunidense Proceedings of the National Academy of Sciences: caso o aquecimento global não reduza seu avanço, até 2100 metade das moradias em 21 cidades dos Estados Unidos estarão submersas.

Nesse contexto surge um novo conceito: Cidades Resilientes. O dicionário define resiliência como o ato de retorno de mola, elasticidade ou poder de recuperação e cidades resilientes são aquelas que conseguem resistir e se adaptar a todas essas mudanças geradas pelo aquecimento do planeta abrangendo o enfrentamento em suas dimensões sociais, políticas e econômicas.

A complexidade e a teia de variáveis que se relacionam como crescimento populacional, gestão local historicamente deficiente, problemas de infraestrutura, construções inseguras, ocupação irregular somados aos efeitos das mudanças climáticas integram a equação para desenvolver a resiliência necessária e oferecer respostas adequadas e rápidas aos desastres. Resistir a esses eventos tem custo e demanda postura ativa para se preparar. É essencial que todos os entes do pacto federativo se apresentem em programas de resiliência para as cidades, pois a maior parte do investimento atualmente sai do bolso dos próprios municípios, o elo mais fraco do pacto. Salvador segue o caminho da resiliência climática integrando a linha de frente de cidades que lideram a adaptação com o desenvolvimento e a implantação de diversos programas e projetos, além de estar sintonizada com o que o mundo discute e formula para enfrentar essa nova era global.

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