O começo do fim
Artigo originalmente publicado na edição de 16/12/2015 do Jornal A Tarde.
Se passaram 23 anos desde que a ECO 92 traçou como objetivo evitar a “interferência perigosa” da humanidade no sistema climático. Com décadas de atraso, impasses, pequenos avanços, grandes fracassos e depois de duas semanas de apreensão chega ao fim a COP 21, ou vigésima primeira Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança Climática, em Paris, com uma sensação de alívio e um acordo histórico entre 195 países, para que o planeta inicie a transição para a economia carbono zero. É uma nova revolução industrial que se forjará nas próximas décadas, com uma visão global e com um objetivo: nos salvar de nós mesmos. Um acordo universal que talvez seja o mais importante do século XXI.
O grande avanço do acordo de Paris vem da vitória da ciência sobre o ceticismo. O texto final traz uma orientação para que o aquecimento do planeta fique bem abaixo de 2°C até 2100, com esforço de chegar a 1,5°C, exatamente o que defende o IPCC para que o planeta não colapse e o caos climático transforme a imprevisibilidade em padrão.
O acordo ainda deixa lacunas, em especial o detalhamento para se limitar o aquecimento global à 1,5ºC, já que o conjunto das metas apresentadas pelos países, as chamadas INDCs (Pretendida Contribuição Nacionalmente Determinada, sigla em inglês), deixam um gap de 12 gigatoneladas de CO2, o que nos leva a um aquecimento entre 2,7°C e 3,5°C – considerando que as metas serão cumpridas na totalidade. Como essa meta de limitar a variação de temperatura não vem acompanhada de um roteiro dizendo como ela deve ser alcançada, cientistas têm criticado o acordo, mesmo o avaliando como um grande avanço. Sem metas e mecanismos claros o acordo pode ter sido mais uma declaração de boas intenções. Se não lutarmos para zerar as emissões até 2050 o planeta vai aquecer bem acima de 2°C. Os pesquisadores defendem ainda que o mecanismo de revisão das INDCs tem de ser muito mais freqüente e com uma sinalização clara de aumento da meta. O acordo propõe a revisão a cada cinco anos, com foco no aumento da ambição das INDCs para acelerar a implantação do acordo.
A sempre polêmica agenda do financiamento climático, que tem o potencial de emperrar as negociações foi resolvida, mesmo que não agradando a todos: serão US$ 100 bilhões por ano aportados pelos países desenvolvidos para ações de combate à mudança do clima e de adaptação nos países em desenvolvimento. O valor será um piso e deverá ser revisto em 2025.
A COP 21 também trouxe a baila o protagonismo de novos atores: as cidades. Em eventos paralelos e oficiais, redes de cidades emergiram como parte importante do esforço climático. Em 2011, apenas 14% das ações contra o aquecimento global partiam de cidades, e já em 2015, este índice aumentou para 51%. A Rede C40, por exemplo reúne 82 megacidades, entre elas Salvador, que representam mais de meio bilhão de pessoas e um quarto da economia global. O estudo “Climate Action in Megacities 3.0” compilou os compromissos das cidades contra as mudanças climáticas, mostrando que as metrópoles vão reduzir emissão de 3 gigatoneladas de CO2 até 2030.
Entre críticas e elogios o Acordo de Paris pode ser uma espécie de manual de reorientação da economia mundial e um sinal do alinhamento entre governos e a ciência do clima. Pela primeira vez um acordo entre todos os países sinaliza que a farra das emissões de gases de efeito estufa precisa chegar ao fim. Com otimismo podemos ouvir o sino que anuncia o começo do fim de uma Era suja e poluente, e o início de um paradigma para as relações internacionais, para o desenvolvimento global e uma esperança para o planeta. O espírito de engajamento presente na COP 21 precisa ser mantido vivo e vibrante. Será ele que nos guiará, pois ainda há muito a ser feito.
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