Mudança do Clima: engenharias, agronomia e geociências

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Até alguns dias atrás o mundo estava reunido na 26ª Conferência das Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas para Mudança do Clima, a COP26. Nunca antes, uma conferência de clima (e essa foi a 26ª), teve tanta cobertura da mídia e tanto espaço nos debates. Em um planeta assolado por uma pandemia que não dá sinais de que se encerrará tão cedo, com novas variantes surgindo sem parar, as atenções e energia de chefes de Estado, cientistas, ativistas e lideranças internacionais estavam naquele momento dedicados a buscar consensos para frear o avanço da emergência climática.

E não foi fácil. Consenso entre mais de 100 representações, com economias e perspectivas distintas é um desafio e tanto. E, no final, as perguntas de sempre são: quem vai pagar a conta? Como os países mais ricos compensarão os países mais pobres? Como fazer com que a mudança do clima não seja mais uma forma de aprofundar as desigualdades? Que mecanismos econômicos ajudarão esses objetivos?

A mudança do clima já é um fato. Não se trata mais de pensar em como será no futuro, pois já acontece. Incêndios florestais cada vez mais agressivos, potencializados por períodos de estiagem mais longos, já passam a mensagem do pantanal, no Brasil, a Califórnia, nos Estados Unidos. Cidades ao redor do planeta que antes recebiam pouca intensidade de chuvas, agora são atingidas por temporais com força. No último ano, causou estragos físicos e perda de vidas em cidades como Nova York que enfrentou o ano mais chuvoso da sua história. Em Vancouver choveu tanto que a cidade ficou isolada por inundações. Na Alemanha e Bélgica, em 2021, quase 200 pessoas morreram. Chuvas acima da média na província de Shanxi, no norte da China, fizeram com que 120.000 pessoas fossem evacuadas de suas casas. Enquanto a chuva inunda cidades, no Brasil vivemos uma crise hídrica sem precedentes em mais de 90 anos, reduzindo drasticamente a geração de energia, forçando a operação de termelétricas poluentes e caras, e pressionando a inflação, que corrói a renda dos mais pobres.

O colapso da biodiversidade é mais um efeito colateral da emergência climática, mas esse pode ser fatal e causar o que cientistas têm chamado de “a sexta extinção em massa do planeta Terra”. Em uma análise a partir de 73 estudos de longo prazo sobre o declínio de insetos ao redor do mundo, pesquisadores australianos e chineses perceberam que os insetos estão caminhando para a extinção, o que nos levaria a um “colapso catastrófico dos ecossistemas da natureza”. A conclusão é de que mais de 40% das espécies de insetos estão sofrendo quedas populacionais em um ritmo constante e a uma velocidade oito vezes maior, em média, do que a dos mamíferos, aves e répteis. Estudo publicado na Science analisando dados, desde 1989, de pesquisas de campo na Alemanha, constatou que a biomassa de insetos que fica presa em equipamentos de captura diminuiu 80%.

De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), abelhas ou outros insetos são necessários na polinização de cerca de 84% das plantas que comemos.

Diversas são as causas apontadas desse declínio: a urbanização, a agricultura intensiva, o uso de pesticidas e as mudanças climáticas que alteram, por exemplo, os períodos de sincronia entre a floração das plantas e a chegada ou a eclosão dos insetos. Sem eles, o colapso da cadeia alimentar, causado por uma cascata trófica de baixo para cima, atingirá desde predadores até as plantas, aniquilando ecossistemas inteiros, com prejuízos econômicos incalculáveis.

Os desafios são inúmeros e eles poderão ser vencidos se soubermos explorar a exponencial capacidade que a inovação possui de gerar soluções. E aqui, as engenharias, a agronomia e as geociências têm papel de destaque. Pensar sistemas alimentares de alta produtividade que não prejudiquem o solo ou a biodiversidade, projetar equipamentos que integrem algoritmos e IOT, promover mais conhecimento dos sistemas que mantêm a vida no planeta, escalar novas formas de energia renováveis, são apenas alguns dos caminhos possíveis. Nos últimos séculos a engenhosidade humana nos permitiu avançar em diversas frentes, e isso é inegável. Essa engenhosidade agora é fundamental para nos salvar.

Artigo publicado originalmente na revista do CREA-BA em 2021

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