Carnaval: em busca da sustentabilidade

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Artigo originalmente publicado na edição de 26/02/2015 do Jornal Correio.

Uma festa complexa que tem o povo como grande protagonista e um esforço de guerra para que as coisas possam estar organizadas. Sim, estamos falando do Carnaval. O nosso, Salvador, é uma das maiores festas de rua do planeta, título concedido em 2004 pelo The Guinness World Records. São dois milhões de pessoas entregues à fantasia de uma festa onde os tabus perdem força e as permissões tornam-se hiperbólicas, nos diria Vinicius de Moraes.

Mesmo com um ensaio de crise, o carnaval de 2015 surpreendeu. Ignorando a recessão por que passa o país, a ocupação hoteleira aumentou, assim como a procura por camarotes e blocos, entre tantos outros números da festa que se mostraram crescentes frente 2014.

E a busca por um carnaval mais sustentável não fugiu à regra: 2015 foi um ano de avanços e números animadores para nossa cidade. Transformar uma festa complexa como nosso carnaval em um espaço menos agressivo ao ambiente, através da adoção de tecnologias sociais e sustentáveis é desafiador. O Programa Carnaval Sustentável chega em sua segunda edição com 100% de aumento na adesão de blocos e camarotes que passaram a adotar práticas que vão desde a simples implantação da coleta seletiva de materiais recicláveis com a integração de cooperativas até a captação da água da chuva, sempre presente no carnaval. De forma voluntária e sem benefícios fiscais percebe-se que a questão ganha força dia após dia entre empresários e foliões. Uma corrente da sustentabilidade cresce a cada ano. Artistas como Gil, Durval e Saulo emprestam sua imagem e sua história de engajamento em causas socioambientais, engrossando o caldo,  chamando a atenção para o tema, formando opinião e renovando a participação das pessoas.

O Camarote do Reino que, junto com o Nana, foram os únicos que lograram alcançar a certificação Ouro do Carnaval Sustentável, estima que economize entre 20 e 30% todo ano com o reaproveitamento de materiais de sua estrutura, bem como com a captação da água da chuva. A CANORE, cooperativa sediada no Nordeste de Amaralina envolve 15 cooperativados na ação dentro do camarote e gera renda de um mês em sete dias para os cooperativados.

Esses números ajudam outros. Mesmo com mais gente na rua, basta comparar com 2014 ou pegar os números da ocupação hoteleira e do aporte de turistas na cidade, 2015 teve uma redução de 14% da geração de resíduos durante os dias de carnaval. Nas ações pós folia de limpeza na Barra a mesma tendência: menos da metade dos resíduos que 2014. Enquanto isso um número aumentou: em 2015 tivemos 115 toneladas de materiais recicláveis recolhidos por cooperativas formais nos circuitos. Se contabilizarmos o que foi recolhido pelos catadores informais estima-se que a quantidade dobre.  Em 2014 foram 64 toneladas.

Movimentos como esses, refletem uma virada sendo dada na sustentabilidade da festa. E é assim mesmo. Afinal sustentabilidade é um novo paradigma, e como novo paradigma sua transição é um processo, segue um ritmo próprio a medida que a sociedade começa a compreender sua necessidade.  E os números traduzem esse movimento de mudança, sendo o carnaval nosso espelho. Graciliano Ramos dizia que “se a única coisa que de o homem terá certeza é a morte; a única certeza do brasileiro é o carnaval no próximo ano”, e para a prefeitura de Salvador a certeza é que ele será mais sustentável em 2016.

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