Antropoceno: Crise do Clima e Pandemias

Não se fala em outra coisa. Um ser que ninguém vê a olho nu, pode estar em todo lugar, tendo viajado o mundo inteiro e alterado a vida de famílias, cidades, estados e países. Um vírus originário da nossa relação, nada sustentável, com animais silvestres (nesse caso um morcego), se alastra de forma devastadora e, não podia ser diferente, se transformou na prioridade número zero para o planeta.
Quem não se sentiu em um filme de ficção cientifica, naquela situação que ninguém imaginava realmente acontecer? A pandemia saiu do dicionário e virou verbete onipresente na TV, Jornais, Internet e conversas pelo celular, afinal não temos mais as conversas de bar.
A consolidação e aprofundamento da chamada globalização, o mais alto índice de urbanização da história e uma desigualdade social que ainda nos envergonha (ou deveria), são ingredientes que transformaram o Corona Virus presente em todos os continentes. Porém, há um elemento fundamental nesse processo: não podemos deixar de lado que vivemos a Era do Antropoceno. Nossa era se caracteriza pelo impacto que o homem tem causado nos ecossistemas. Em prol do desenvolvimento econômico modifica de forma irreparável as condições climáticas no planeta, evidenciando um modelo de globalização e da exploração do ambiente já insustentável. Por outro lado, o COVID19 tem sido chamado de Vírus da “desglobalização”, em função da forma como governos de todo o mundo vêm reagindo para conter o avanço do contágio: fechar portos, aeroportos, estradas e rodoviárias.
Uma outra reflexão importante é que a crise climática passou pra lista secundária de prioridades. É natural e necessário que o combate ao vírus seja a única prioridade do momento, mas como sairemos dessa grande confusão?
O COVID19 está mostrando como subestimamos os impactos da crise climática, em especial, dos riscos à saúde que enfrentamos diariamente. A poluição do ar é uma das principais causas de mortes no mundo. De acordo com estudo publicado no European Heart Journal, ela foi a causa de 8,8 milhões de mortes em 2015, a partir de doenças cardiovasculares como ataque cardíaco e AVC, e já ultrapassa as causadas pelo consumo de tabaco que matou 7,2 milhões de pessoas em 2015, segundo dados da OMS. No Brasil, essas mortes aumentaram 14% em 10 anos. Em 2006, 38.782 morreram, número que pulou para 44.228 em 2016, de acordo com o estudo Saúde Brasil 2018. Internações por problemas respiratórios custaram R$ 1,3 bilhão ao SUS em 2018.
Estudos recentes revelam que a infecção pelo Corona Vírus é maior em pessoas expostas ao cigarro e a poluição. Só na China, a poluição do ar matou 1,6 milhões de pessoas por ano e em todo o mundo 7 milhões. Durante este surto na China, em dois meses, cerca de 3200 pessoas morreram devido a poluição do ar, um número maior que o Covid-19.
Essa pandemia traz lições que deverão nortear decisões futuras para a questão climática, modificando o comportamento humano frente aos riscos sanitários e ecossistemas naturais. Tudo está interconectado e a visão de saúde no Antropoceno deve considerar a perspectiva de uma saúde planetária.
Já que estamos em casa, aproveitemos para cuidar do nosso quintal, pois a dengue não respeita quarentena. Já temos um desafio gigantesco pela frente e não precisamos de um mosquito pra nos atrapalhar, né?!
Nelzair Vianna é Pesquisadora em Saúde Pública da Fiocruz e Doutora em Ciências pela FMUSP . André Fraga é Engenheiro Ambiental e Doutorando pela Faculdade de Medicina da USP.
Artigo originalmente publicado na edição impressa do Jornal Correio* em 02/03/2020
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