Alimentação mutante
Artigo originalmente publicado na edição de 01/01/2016 do Jornal Correio.
O Brasil é o campeão mundial no uso de agrotóxico, e esse nível alarmante se deu em sintonia com a liberação e expansão das lavouras transgênicas no país. De lá para cá o consumo de agrotóxicos cresceu mais de quatro vezes. Apenas o glifosato saltou de 57,6 mil para 300 mil toneladas entre 2003 e 2009. Somos o segundo maior produtor de transgênicos do planeta: 65% do algodão, 93% da soja, 82% do milho plantados em mais de 48 milhões de hectares são de sementes geneticamente modificadas.
Os transgênicos entraram ilegalmente no Brasil em 1997 e foram legalizados por uma Medida Provisória em 2003. Seu uso segue uma lógica que aprisiona o produtor rural através de royalties a serem pagos para a empresa que detém a patente da semente. Por meio da engenharia genética fabricantes de agroquímicos criam sementes resistentes a seus próprios agrotóxicos e até sementes que produzem plantas inseticidas com cruzamentos incomuns como vegetal com bactéria, algo que não aconteceria naturalmente. Algumas dessas sementes são estéreis forçando o produtor a recorrer à empresa para semear a cada nova safra.
O cultivo de sementes transgênicas é sempre associado a monocultura, que degrada o solo, afeta a biodiversidade de flora e fauna, além de contaminar outras plantações não transgênicas a partir de mutações. Esses impactos vão além: a monocultura extingue o conhecimento sobre semeadura, colheita, conservação, manejos, preparos agrícolas, culinários e variedades locais, sendo também uma perda sociocultural. Nos Estados Unidos já foram identificados cinco tipos de insetos mutantes, que se adaptaram e hoje são super-resistentes as lavouras transgênicas e seus insumos. O uso de agrotóxicos aumenta a cada safra, anulando o discurso no qual lavouras transgênicas usam menos defensivos.
Recentes estudos indicam potenciais riscos biológicos do uso de transgênicos e agroquímicos como disrupções endócrinas, resistência a antibióticos, má-formações, doenças crônicas, neurodegenerações e alergias. Pesquisa do Instituto de Nutrição de York, Inglaterra, em 1999, constatou o aumento de 50% na alergia a produtos à base de soja, afirmando que o resultado poderia ser atribuído ao consumo de soja geneticamente modificada. Em 2014, estudo do MIT, apresentou mais um dado alarmante: até 2025, metade das crianças nascerá autista causado pelo uso indiscriminado de glifosato.
E pode ficar pior. Um Projeto de Lei, aprovado na Câmara dos Deputados, retira a obrigatoriedade de empresas do ramo alimentício de informar ao consumidor a presença de alimentos transgênicos nos rótulos de seus produtos. A rotulagem de produtos transgênicos é um direito básico dos consumidor de saber o que come.
Enquanto isso um terço dos alimentos produzidos em todo o mundo é desperdiçado anualmente junto com toda a energia, água e produtos químicos envolvidos em sua produção e descarte, segundo o relatório A Pegada do Desperdício Alimentar, da Organização das Nações Unidas para Agricultura e a Alimentação. O volume corresponde a 1,3 bilhão de toneladas e, se fosse um país, o desperdício de comida seria o terceiro maior emissor de gás carbônico do mundo, ficando atrás apenas da China e dos Estados Unidos com 3,3 bilhões de toneladas de dióxido de carbono por ano.
Precisamos considerar a crise climática que vivemos e como enfrentá-la sob a ótica da agricultura. A biodiversidade é nosso seguro, já que alguns impactos na produção de alimentos são imprevisíveis. Diferente do propagado pela indústria dos transgênicos, a monocultura não acabará com a fome no mundo. Os valores pagos de royalties e o uso de agrotóxicos colocam o custo e a produtividade dos transgênicos em xeque. Se contabilizarmos os riscos para a saúde do planeta a conta não fecha. Nunca foram solução, e hoje o problema cresce assustadoramente.
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