A gente fuma todo dia

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Quantos cigarros você fuma por dia? Você não fuma cigarro? Fuma sim. A poluição do ar é uma das principais causas de mortes no mundo. De acordo com estudo publicado no European Heart Journal ela foi a causa de 8,8 milhões de mortes em 2015, a partir de doenças cardiovasculares como ataque cardíaco e AVC, e já ultrapassa as causadas pelo consumo de tabaco que matou 7,2 milhões de pessoas em 2015, segundo dados da OMS.

Gerenciando os índices de poluição atmosférica de 4.300 cidades de 108 países, a OMS alerta que noventa por cento das pessoas, em todo o mundo, respiram ar poluído.

No Brasil as mortes causadas pela poluição do ar aumentaram 14% em 10 anos, segundo o Ministério da Saúde que verificou mais óbitos por câncer de pulmão, traqueia e brônquios e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Em 2006, 38.782 morreram, número que pulou para 44.228 em 2016, de acordo com o estudo Saúde Brasil 2018. Internações por problemas respiratórios custaram R$ 1,3 bilhão ao SUS em 2018.

A poluição do ar está diretamente ligada à crise climática planetária, especialmente nos países em desenvolvimento. Na maioria das cidades latino-americanas, a principal contribuição de emissões de Gases de Efeito Estufa vem do setor de transporte. Carros, ônibus, motocicletas, caminhões, são responsáveis por 74% de tudo que é emitido em Salvador através da queima de combustíveis fosseis. Não é muito diferente em São Paulo, Rio de Janeiro ou Bogotá e Cidade do México. E aqui reside um dos maiores desafios urbanos que vivemos: como financiar a redução as emissões promovendo a transição da matriz energética do transporte nas nossas cidades?

Salvador já iniciou sua jornada para cumprir essa missão. Estudo realizado pela Prefeitura em parceria com a Fiocruz, a rede C40 e a Johnson & Johnson avaliou os impactos da mudança de motorização da frota municipal de ônibus, promovida pela Secretaria de Mobilidade. Em março de 2018, quando o estudo foi lançado, 885 ônibus de uma frota de 2700 ônibus já tinham sido trocados por um padrão menos poluente. A conclusão é que a mudança da frota, planejada pra ser completa até o final de 2020, passou a evitar 10 mortes por ano na cidade, além de aumentar em 2 dias a expectativa de vida de cada soteropolitanx. Há ainda a economia de 19.4 milhões de reais no sistema público de saúde com o tratamento de doenças associadas a poluição do ar.

Uma alternativa ainda mais robusta é a consolidação da eletromobilidade, que não emite gases de efeito estufa. Basta que o Brasil adote a nível nacional políticas de promoção da eletromobilidade e de sua infraestrutura, crie linhas de financiamento preferenciais que facilitem a compra de veículos elétricos, reduza a carga tributária para esses veículos e seus componentes e taxe os motores poluentes. Caso a matriz de ônibus fosse elétrica a economia saltaria para R$72 milhões em problemas de saúde e evitaria 39 mortes por ano em Salvador.

Em SP, pesquisa da USP avaliou pulmões de 413 cadáveres da capital paulista e descobriu que em uma hora de trânsito as pessoas “fumam” 5 cigarros. E você, quantos cigarros fumou hoje?

Artigo produzido por André Fraga originalmente publicado na edição impressa em 10/12/2019 do Jornal CORREIO*. 

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