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Árvore não é poste

  • Foto do escritor: André Fraga
    André Fraga
  • 30 de out
  • 2 min de leitura


Ao visitar um domicílio, o agente do Censo 2022 observava o entorno e buscava árvores na rua, num raio próximo à residência em questão. A presença ou ausência de árvores compôs mais um dado do mais recente censo brasileiro e revelou como as cidades brasileiras são pouco arborizadas.


Salvador se destacou entre as capitais com menos árvores nas calçadas a partir do censo. Já em outro recente estudo do MapBiomas, de 2024, a capital baiana figura como a segunda com mais área vegetada do Brasil, tendo um pequeno ganho de área verde nos últimos anos.


Mas o que explica essa contradição? Como Salvador pode ser, ao mesmo tempo, a segunda capital menos arborizada e a segunda com maior proporção de área com vegetação?


Arborização urbana é ciência. Árvore não é poste. O planejamento de arborização é preciso identificar o local correto, preparar o solo, ter equipamentos e mão de obra.


No início, a árvore precisa de cuidados diários com água, combate a pragas, proteção contra vandalismo e até mesmo furto, quando não é comida por animais soltos na rua. Ao longo dos anos, atenção e cuidado farão essa árvore crescer e garantir todos os seus serviços ecossistêmicos.


Nos últimos anos, Salvador plantou muitas árvores, mas é verdade que o número não foi suficiente para mudar o panorama de uma cidade pouco arborizada. A opção de plantio em canteiros, praças e áreas livres é importante, mas limitada, pois não promove benefícios aos pedestres em calçadas. A escolha tem razões técnicas e econômicas: plantar em calçadas é mais caro e complexo.


Muitos bairros na cidade sequer possuem calçadas; a maioria que as possui tem largura menor que o mínimo necessário para compatibilizar o plantio de árvores com a acessibilidade de pessoas com deficiência. Em 2022, quatro a cada 10 habitantes (42,7%) de Salvador moravam em favelas, espaços altamente adensados e marcados, por exemplo, pela ausência de calçadas.


Mesmo sendo uma política pública importante, com impactos sistêmicos que vão de saúde à infraestrutura, não há uma fonte de financiamento específica para arborizar as calçadas. Salvador já possui, desde 2017, a Lei 9.187, que dispõe sobre o Plano Diretor de Arborização Urbana do Município de Salvador, e trouxe muitas inovações, mas ainda carece de uma aplicação efetiva, especialmente por parte dos órgãos de licenciamento e de execução de obras. No âmbito estadual, não há nada para promover a arborização nas cidades. Nem um programa. Nem um centavo. No nível federal, está em discussão o Plano Nacional de Arborização Urbana.


Nossas cidades só serão efetivamente arborizadas se isso for uma iniciativa de todo mundo: governos, empresas e sociedade civil.


Eu sei que você certamente acha importante termos muitas árvores na cidade, mas me responde uma pergunta: quantas delas você já plantou e cuidou?



Artigo publicado originalmente no jornal A Tarde em 30 de outubro de 2025

 
 
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