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Foto do escritorAndré Fraga

Tarja Verde

Atualizado: 6 de ago.

Entre 2001 e 2005, cientistas da Universidade de Glasgow, analisaram os certificados de óbito de 366.348 pessoas para verificar a ligação entre diferentes causas de morte e acesso a áreas verdes. Os dados mostraram que, em regiões onde há mais áreas verdes, a diferença entre ricos e pobres caía quase pela metade, quando o assunto eram as condições de saúde. O estudo, publicado na revista acadêmica The Lancet, chegou a conclusão que morar perto de parques ou outras áreas verdes ajuda a melhorar a saúde das pessoas, independentemente da classe social.


O contato com o verde traz outros benefícios. A Mycobacterium vaccae, é uma bactéria não-patogênica, de solo natural que as pessoas geralmente ingerem ou respiram quando passam algum tempo na natureza. Cientistas já acreditavam que ela possuía capacidades antidepressivas, e descobriram que ela também pode deixar as pessoas mais inteligentes, de acordo com estudo da Sociedade Americana de Microbiologia. Ela aumenta os níveis de serotonina, tipo de neurotransmissor que desempenha um papel importante no aprendizado reduzindo a ansiedade e aumentando a capacidade de aprender novas tarefas.


Já na Universidade de Illinois, um estudo, pediu a 17 crianças com idade entre 7 e 12 anos diagnosticadas com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) que corressem em um parque por 20 minutos, sendo submetidas a um teste em seguida. Os resultados mostraram semelhanças aos obtidos com o uso de ritalina, medicamento tarja preta usado no tratamento de TDAH, enquanto que os passeios pelo bairro, não apresentaram resultados.

Pesquisas na Universidade Cornell em Nova York mostraram que crianças com natureza perto de casa têm menos distúrbios de comportamento, menos ansiedade e depressão e mais auto-estima. Estudos da Universidade da Carolina do Norte, mostraram que experiências multissensoriais na natureza ajudam a construir a base cognitiva para o desenvolvimento intelectual.


A predileção das nossas crianças em brincar dentro de casa, local onde estão as tomadas para carregar celulares, iPods, PlayStations e etc., faz com que o virtual triunfe, dissociando  infância e natureza. Somado a estilos de vida cada vez mais programados e uma agenda excessivamente organizada, as crianças tem seus sentidos limitados fisiológica e piscologicamente, resultando em altas taxas de distúrbios infantis físicos e mentais. Essas evidências levaram o escritor americano Richard Louv a defender que as altas taxas de crianças com TDAH podem ser um conjunto de sintomas agravados pela falta de exposição à natureza – o que ele chama de “transtorno de déficit de natureza”, que deságuam também em um menor uso dos sentidos, dificuldades de atenção, índices elevados de doenças mentais, maior taxa de miopia, obesidade adulta e infantil, deficiência de vitamina D entre outros problemas.

Outro distúrbio moderno é a amnésia ecológica. Estudo desenvolvido pela Universidade de Washington, mostrou que a substituição da natureza, com a ajuda de meios tecnológicos, faz com que adultos que viveram por algum tempo em grandes cidades costumam sentir que as conseqüências da poluição do ar são menos graves do que acham os recém-chegados à cidade, ou seja, paulatinamente a natureza virtual vai substituindo a real, e a lembrança da real desaparece da memória coletiva.


Com base nesses resultados, cada vez mais pesquisadores sugerem que o contato com a natureza seja uma complementação importante das terapias mais comuns, como medicação e psicoterapias convencionais.


Em Salvador a entrega do Parque da Cidade completamente requalificado, dialogando com todos os bairros que o circundam, é um exemplo incontestável de como parques e áreas verdes são valorizados cada vez mais pelas pessoas. Em dois finais de semana de sol forte, competindo com a praia, o parque passou os dias lotado. Não foi diferente durante a semana.

Jovens, adultos, idosos e crianças, integradas, se integrando e ingerindo sua dose de tarja verde.


Artigo originalmente publicado na edição de 17/06/2016 do Jornal Correio.

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