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Foto do escritorAndré Fraga

Meio Ambiente no boleto

Não bastasse a pandemia levando vidas, pressionando governos, arrasando setores econômicos e afastando as pessoas, em 2021 também vivemos a maior crise hídrica em 91 anos no Brasil. Enquanto isso, muito se noticia sobre a falta de chuvas que secou o volume das represas na região Sudeste, mas nem se ouve falar em Manaus: a cidade está literalmente debaixo d’água por causa de uma cheia histórica do Rio Negro que elevou em 30 metros o seu nível, transformando ruas em canais navegáveis e deixando casas submersas. Lá, as cheias recordes estão cada vez mais frequentes: das 11 maiores enchentes, 7 se deram desde 2009. Uma das causas é o fenômeno La Niña, que esfria as águas do Oceano Pacífico e altera boa parte do clima global. O La Niña está cada vez mais frequente e agressivo por conta da mutação climática.

Menos chuva representa baixo estoque de água que reduz a produção de energia nas hidroelétricas, fazendo com que o governo recorra ao acionamento de termoelétricas, com um alto custo ambiental e econômico; resultado: conta de energia mais cara com a bandeira vermelha patamar 2. Em 18 anos, o custo da energia para o consumidor subiu 230%, enquanto a inflação foi de 189%.

Mas dá pra resolver. A Agência Internacional de Energia já apontou a necessidade de que se encerre a exploração e uso de combustíveis fósseis até 2050. O incremento da infraestrutura para a eletromobilidade é um dos caminhos para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e interromper o avanço da crise climática. Algumas montadoras já assumiram compromissos pela interrupção da produção de novos veículos a combustão, mas os desafios de infraestrutura, incentivos governamentais e o alto valor dos veículos, ainda deixam o Brasil no último pelotão dessa corrida, mesmo tendo o mercado apresentado anos sequenciais de aumento nas vendas. 

Enquanto país tropical e ensolarado, o Brasil deveria buscar incentivar a produção de energias renováveis. A ANEEL tenta limitar o desenvolvimento da cadeia de energia solar fotovoltaica com “regulamentações” esdrúxulas, atendendo ao lobby das grandes distribuidoras de energia. Segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica, o setor criou mais de 200 novos postos de trabalho por dia, só em 2020 e, até 2050, a previsão é de 1 milhão de novos empregos e R$ 139 bilhões em investimentos no país. Imagine se, nesse momento de crise energética, uma boa parte das casas e indústrias tivessem seu sistema autônomo de produção de energia? 

Nosso boleto está no vermelho. Estados Unidos e China já definiram que, para eles, o boleto será verde e já desenharam uma retomada econômica verde pós-pandemia, o que chamam de Green New Deal, com foco na transição para uma economia de baixo carbono, desinvestindo em tecnologias poluentes e obsoletas, e promovendo as tecnologias verdes, produzindo empregos e renda. Enquanto comemoramos o crescimento do PIB associado ao agronegócio de monocultura de commodities, esquecemos que esse é um dos setores mais vulneráveis à mudança do clima. Só em 2021, em todo Mato Grosso do Sul, parte de Minas Gerais, na maior parte do Paraná e no sudoeste paulista, a média de chuvas ficou pelo menos 30% abaixo do esperado e, mesmo com a previsão de safra recorde, a Companhia Nacional de Abastecimento, CONAB, prevê uma queda mínima de 2,1 milhões de toneladas. As mensagens estão claras e caras. O que faremos hoje definirá o valor do boleto de amanhã!

Artigo publicado originalmente 

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