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Mais terra, menos tela!

  • Foto do escritor: André Fraga
    André Fraga
  • 4 de dez. de 2024
  • 2 min de leitura


Quantos pais não acham incrível um filho de 8 anos que abre o celular e “consegue fazer tudo lá”? O tudo, no caso, é destravar a tela, abrir um número limitado de aplicações de um cardápio ainda mais limitado de opções: vídeos ou jogos. Todos deixam a criança quietinha e “entretida”.


A crescente onda de diagnósticos de crianças e jovens com TDAH acompanha o processo de urbanização e digitalização da sociedade, e a consequente desconexão das pessoas com a natureza. E isso não é mera coincidência.


Conforme os jovens passam cada vez menos tempo em ambientes naturais, seus sentidos se restringem fisiológica e psicologicamente. Isso porque venderam a ideia de que nossas crianças seriam nativas digitais e que as telas deviam ser introduzidas logo nos primeiros meses de vida.


Já a Academia Americana de Oftalmologia estima que, em 2050, metade da população mundial terá miopia, distúrbio visual cuja principal característica é a dificuldade de ver de longe. O número de prescrições de óculos para crianças de 6 a 8 anos, no Brasil, triplicou comparado a há cinco anos. A condição foi eleita pela OMS como um dos problemas de saúde pública que mais cresce no mundo, com um agravante: uma revisão de 36 estudos com dados de 700 mil crianças mostrou que aquelas com problemas de visão têm risco maior de desenvolver depressão e ansiedade. No Brasil, mais de 16 milhões de jovens enfrentam a depressão, um aumento de 34% entre 2013 e 2019.


O tempo roubado pelas telas prejudica o desenvolvimento de habilidades fundamentais que, se não forem suficientemente mobilizadas até a idade certa, em geral é tarde demais para aprender posteriormente, como: pensar, refletir, manter a concentração, fazer esforços, dominar a língua além de suas bases rudimentares, hierarquizar os vastos fluxos de informação produzidos pelo mundo digital e interagir com outras pessoas. Nessa fase, o cérebro é mais plástico, moldável e adaptável.


Mais tempo na natureza, associado a menor exposição a telas, tem sido atribuído a menores índices de TDAH e ansiedade. Se isso é verdade, o TDAH pode ser um conjunto de sintomas agravado pela ausência de exposição à natureza. O distúrbio não está na criança, e sim no ambiente ao qual ela está sendo exposta.


O que vem acometendo nossas crianças e jovens é o Transtorno de Déficit de Natureza, que provoca a diminuição do uso dos sentidos, dificuldade de atenção e índices mais altos de doenças físicas e emocionais. Assim como necessitam de uma boa alimentação e de um sono adequado, crianças também precisam de contato com a natureza.


Como os jovens reagem à natureza e como vão criar seus filhos acaba delineando as configurações e as condições das cidades, lares e do cotidiano em geral. A promessa de vida das crianças é sagrada e deve ser cercada de todos os cuidados possíveis.



Artigo publicado originalmente

no jornal CORREIO em 4 de dezembro de 2024

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