Em 2012 a Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável – Rio+20, reuniu 188 países, e terminou com resultados tímidos e a procrastinação para 2015 de metas para um desenvolvimento de baixo carbono. Os constantes alertas sobre o impacto das mudanças climáticas globais sobre a economia, os riscos urbanos e a saúde da humanidade não foram suficientes para sensibilizar os líderes dos governos nacionais. Muitos inclusive sequer apareceram. Outros ignoraram solenemente a conferência. Teve líder que foi a estádio assistir jogo de futebol em seu país enquanto o evento acontecia no Rio de Janeiro.
Mas nem tudo se perdeu. Alguns bons resultados e compromissos saíram da conferência. Durante a Rio+20 as cidades do C 40 estabeleceram compromissos e metas de redução das emissões de GEE até 2030. Percebendo o protagonismo que as grandes cidades vem desempenhado no cenário global, a ONU convidou o C 40 para fazer parte oficialmente da próxima conferência que acontecerá em Paris em 2015, o prazo estabelecido pela Rio + 20 para que sejam definidas metas concretas para o desenvolvimento sustentável. Esse papel, cada vez mais relevante, que o C 40 chama de diplomacia das cidades, é uma resposta prática de líderes locais à questões globais, já que os governos nacionais não conseguem chegar a consensos e adiam decisões que possuem como característica principal a urgência. Caberá então as cidades o papel de locomotiva dessas mudanças, assumindo papel de destaque e decisivo, afinal elas são a peça chave nessa luta, pois consomem 78% da energia global, contribuem com mais de 60% das emissões de GEE e geram 1300 milhões de toneladas de resíduos sólidos.
A Rede C 40 foi criada por cidades para cidades. Seu principal objetivo é implementar estratégias para redução das emissões de carbono nas megacidades e ampliação da resiliência das comunidades locais. Reúne atualmente 75 das megacidades do mundo comprometidas em enfrentar as mudanças climáticas. Essas cidades representam 5% da população mundial e 21% do PIB global. As cidades da rede já desenvolveram mais de cinco mil ações climáticas, que até 2020 reduzirão 248 milhões de toneladas de emissões de gases de efeito estufa em todo o mundo – o mesmo que Argentina e Portugal juntos emitem.
As cidades da rede C 40 tem o potencial de reduzir suas emissões anuais cumulativas de GEE em 1 gigatonelada até 2020. Esse potencial parte do pressuposto que o business as usual já não cabe mais e que o enfrentamento às mudanças climáticas transfere a rubrica de custeio ou gasto para de investimento e geração de emprego e renda. Se entendermos que as mudanças climáticas vão acontecer e que elas impactam as cidades, o que é um problema pode se transformar em uma grande oportunidade. A mudança da matriz energética dos transportes, a construção sustentável, a ampliação da reciclagem são ações já desenvolvidas pelos governos locais e que consideram a inovação fator chave para colocar os governos locais na dianteira do combate aos efeitos das mudanças climáticas.
Salvador foi integrada como quarta cidade brasileira à Rede C40. Se somou a Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba. Integram ainda a rede cidades do porte de Nova York, Londres, Cidade do Mexico, Buenos Aires, Amsterdan, Toquio. São cidades que resolveram encarar a sustentabilidade como pilar estratégico para seu desenvolvimento.
Para Salvador, esse reconhecimento é a oportunidade de levar sua agenda para além das fronteiras regionais e nacionais, mas em especial em dialogar com as cidades mais inovadoras do planeta, trocar experiências e buscar soluções adaptáveis à nossa realidade. Somos uma península e estamos completamente vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas. Será essa diplomacia de cidades que assumem a liderança e o compromisso que guiará nosso planeta urbano pelo caminho da sustentabilidade. E Salvador entrou no jogo.
Artigo originalmente publicado na edição de 15/05/2015 do Jornal Correio.