A importância da agenda ambiental na atualidade já é fato superado. Não há programa de TV ou rádio, reportagem em revista, notícia em jornal ou conteúdo de site que, de alguma forma, não traga referência às questões ambientais. Saneamento, protocolo de Quioto, Rio +20, dengue, sacolinha plástica, trânsito engarrafado, seca, enchentes, enfim, tudo traz uma variável que integra a mesma equação: a necessidade de mudar um modelo de desenvolvimento que tem cada vez mais mostrado sinais de esgotamento evidenciados em crises acontecendo em intervalos de tempo cada vez menores, sendo tratadas com os mesmos remédios, que já não fazem o efeito esperado.
Enquanto as cidades brasileiras não sabem o que fazer para solucionar o caos instalado no trânsito, as medidas de combate à crise se resumem em incentivar o consumo, mesmo que esse consumo seja para dar sobrevida à indústria automobilística (alçada a carro-chefe da economia e indicador de saúde econômica), com isenção de impostos e mais carros jogados em nossas cidades. Só em Salvador, cerca de 800 veículos são emplacados diariamente.
Por outro lado, assistimos a retrocessos ganharem forma nas casas legislativas. Seja em Salvador, com PDDU e Louos causando prejuízos financeiros para uma “cidade falida”, como gostam de dizer nossos gestores.
Seja no governo estadual, com a mutilação da legislação ambiental em função de uma celeridade para licenças e projetos, preterindo investimento em fiscalização, contratação e qualificação de técnicos. Seja ainda na política nacional, onde o Código Florestal sofreu ameaça séria de retrocesso, salvo aos 48 do segundo tempo com o veto presidencial, depois de forte pressão da opinião pública. Mas tudo isso tem a ver conosco. Nós os elegemos.
A verdade é que a agenda ambiental ainda é apenas a cereja do bolo ou uma ideia legal que poucos conseguem transformar em ação prática e entender a conexão do cotidiano, das coisas simples com impactos no meio ambiente e a pressão sob os recursos naturais. Vivemos um estado de euforia produzido por um pseudocrescimento econômico, que nos faz confundir felicidade com poder de compra e deixa todo mundo com uma pilha de carnês para pagar e o governo mostrando como o PIB cresceu. Em maio, a inadimplência dos financiamentos de veículos bateu recorde pelo 16º mês consecutivo: cresceu quase três vezes em apenas um ano.
Precisamos de outra forma de mensurar riqueza. O PIB é incompleto, não contabiliza dados do IDH e nem das políticas de segurança, por exemplo, mas o que é gasto com compensação de danos ambientais ou reconstrução de danos causados por desastres naturais entra na conta, distorcendo a realidade e o conceito de riqueza. No Brasil, a FGV já elabora uma metodologia para medir a Felicidade Interna Bruta (FIB), corrigindo essas distorções de cálculo do PIB, que só contabiliza o crescimento industrial e as transações comerciais.
Em um ano em que o planeta deveria estar discutindo de forma sensata um novo paradigma civilizatório, uma mudança radical na rota em que estamos, a Rio +20 corre o risco de fracassar e ser apenas um bate-papo entre alguns chefes de Estado e diplomatas, sem ações concretas que acenda uma luz no fim do túnel. Não podemos mais fazer uso do cheque especial de recursos naturais achando que ele faz parte do nosso orçamento. O Dia Mundial do Meio Ambiente precisa ser como outro qualquer, apenas mais um dia em que cada um faz sua parte, lembrando que, se não chegar ao final do mês sem usar o cheque especial, no mês que vem vai ter que pagar.
Artigo originalmente publicado na edição de 06/06/2012 do Jornal A Tarde.
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