Secas cada vez mais prolongadas se revezam com temporais cada vez mais avassaladores. Da Amazônia aos pampas gaúchos, eventos climáticos extremos têm mudado nossas paisagens. O planeta está desequilibrado. As relações naturais são holísticas, sistêmicas, enquanto nosso modelo de produção e consumo é reto, cartesiano. Em completa desconexão, rumamos em direção ao abismo com as pastilhas de freio desgastadas.
Estamos no fundo do poço. Foram essas palavras que classificaram o Brasil, no relatório anual das ONGs Germanwatch e Climate Action Network Europe, revelando o desempenho vergonhoso que nos fez despencar 14 posições, entre as 58 nações avaliadas, sobre políticas de clima.
Enquanto o planeta ruma para uma economia de baixo carbono e energias renováveis o trunfo desenvolvimentista nacional é o combustível do século 19, motor de uma empresa símbolo nacional, mas desconectada com o bonde da História. O petróleo encontrado no pré-sal, não é nem de longe a solução de nossos problemas. A Petrobrás precisa acelerar sua transição de uma empresa petrolífera para uma empresa energética, com foco em renováveis. O pré-sal poderia ser esse passaporte, mas não é isso que os movimentos governamentais demonstram.
Mesmo sendo o 10º país do mundo mais atrativo no setor, segundo o Índice de Atratividade de Energias Renováveis, da consultoria Ernst & Young, o Brasil permanece estático. Um exemplo claro é Plano Nacional de Energia até 2030, da EPE, que simplesmente ignora a energia solar. A matriz eólica produz ¼ do seu potencial, enquanto o governo investe 70% em combustíveis fósseis. O pré-sal é o maior investimento do mundo, se considerarmos o volume de investimento em um único negócio. Pesquisa da Frankfurt School com a ONU e a Bloomberg, mostra que os investimentos brasileiros em renováveis entre 2008 e 2013 caíram 75%. O etanol brasileiro a base de cana, uma das inovações mundiais no setor energético, vive a deriva enquanto a exploração do pré-sal deve emitir mais de 330 milhões de toneladas de CO2 por ano, quantidade equivalente ao total de emissões de toda África do Sul.
Já o restante do planeta se move em outra direção. Segundo a Bloomberg New Energy Finance as projeções para o setor de energias renováveis são de um crescimento de 230%, passando dos US$ 268,7 bilhões de investimentos em 2012 para US$ 630 bilhões por ano em 2030. A energia solar nos Estados Unidos gerou mais de 20 mil empregos em 2013, mais que a indústria automobilística no Brasil, considerando todos os inventivos tributários e econômicos que receberam. Até o Rockefeller Brothers Fund, da lendária família americana que construiu sua fortuna sobre poços de petróleo anunciou a retirada de US$ 50 bilhões de seus investimentos em exploração de petróleo. Enquanto no Brasil o motor da economia é a indústria automobilística que entope nossas cidades como as artérias de um enfartado, na Espanha se vende mais bicicletas que carros.
Nossa contribuição é o quinhão de insensatez. Um ministro de Ciência e Tecnologia que não acredita em inovação e aquecimento global, o avanço do desmatamento da Amazônia três vezes maior, a ausência de uma política energética séria, a desconexão da política econômica e o desdém da política ambiental.
Artigo originalmente publicado na edição de 31/01/2015 do Jornal Correio.