Os eventos climáticos extremos são a face mais dramática das mudanças que o planeta passa, causadas pelo acúmulo de gases de efeito estufa, emitidos pela humanidade, transformando ainda mais a vida de bilhões de pessoas que vivem nas cidades. Salvador, por exemplo, começou 2016 recebendo em janeiro, em apenas 7 dias todo o volume de chuvas esperado para 20 dias.
Com formato quase peninsular, Salvador é banhada pelo oceano atlântico e pela Baía de Todos os Santos. Temos um relevo acidentado, com muitas ocupações perigosas em encostas e vales. Acumulamos as marcas de séculos da ausência de planejamento com sistemas de drenagem ineficientes, infraestrutura deficitária e cidadania ainda em construção.
Com esse cenário possuímos vulnerabilidades que se agravam com a mudança no clima global. A Política Municipal de Meio Ambiente, um marco histórico para a agenda ambiental de Salvador, já traz um capítulo dedicado inteiramente ao reconhecimento da ação humana como fator preponderante para essas alterações no clima, e aponta caminhos para o enfrentamento da situação no nível local.
Começamos o caminho com destino a redução de suas emissões e resiliência de nosso território e povo. Somos uma das poucas capitais brasileiras que já possui um Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa, que diagnostica as emissões de carbono, metano e oxido nitroso por setor, possibilitando a implementação de uma estratégia de redução. Exemplos já em curso são o uso de combustível EuroV que possui menor taxa de emissões na frota de ônibus da cidade e que já colhe resultados de melhoria da qualidade do ar na cidade, e o Salvador Vai de Bike que tem popularizado o uso da bicicleta e proporcionado infraestrutura para sua prática. Ações que ajudam a reduzir as emissões do setor de transportes.
Os eventos climáticos extremos exigem coordenação, mobilização e informação em tempo real para reduzir e mitigar o mais rápido possível seus impactos. Com grande investimento, a Defesa Civil passa por um intenso processo de reestruturação que inclui ações de mobilização e comunicação das comunidades, a realização de contenção de encostas, sistemas de alerta e alarme e um centro de monitoramento que acompanha em tempo real as movimentações de ar e as possibilidades de chuva na cidade, além da troca de soluções com outras cidades do mundo em redes nacionais e internacionais como o C40. O programa Morar Melhor, que executa melhorias habitacionais, ajuda na resiliência de comunidades inteiras em bairros historicamente esquecidos da cidade, ajudando na redução de umidade, infiltrações e levantando ainda mais a energia de seus moradores. Já contamos também com um Centro de Controle de Trânsito monitorando 24 horas por dia e 7 dias por semana os problemas no tráfego para encontrar a solução em tempo real.
A busca por uma cidade mais eficiente já começou. Avenidas como a Suburbana e a Paralela, e trechos de orla além de praças já estão com iluminação em LED, economizandno energia e dinheiro, e o IPTU Verde soteropolitano foi identificado como uma das 100 iniciativas mais inovadores entre todas as cidades do mundo no combate aos efeitos das mudanças climáticas em recente publicação da rede C40, baseada em Londres. O plantio de árvores nativas em curso pelo programa VerdePerto ajuda na manutenção da biodiversidade e no combate a ondas de calor. Por esses motivos a cidade foi aceita no programa 100 Cidades resilientes da Fundação Rockfeller, que ajudará Salvador a coordenar e implementar sua estratégia para se adaptar as mudanças do clima.
Mudanças no ambiente natural e a superação de limites geográficos fazem parte da história de todas as cidades do mundo. Se adaptar a esse contexto que se desenha será a diferença entre cidade que sobreviverão e as que sucumbirão. Salvador já caminha para a resiliência.
Artigo originalmente publicado na edição de 05/07/2016 do Jornal Correio.