De acordo com a Lancet Commission on Pollution and Health (2017), um esforço cientifico que envolve os mais respeitados pesquisadores do planeta, a poluição é uma das maiores causas de doenças e mortes prematuras em todo o mundo, tendo sido responsável pela perda de 9 milhões de vidas humanas em 2015. Isto corresponde a 16% de todas as causas, 3 vezes mais que AIDS, tuberculose e malária juntos e 15 vezes mais que guerras e mortes violentas. A poluição é seguida por outros dois fatores de risco: a dieta e o sedentarismo. Para o controle destes riscos surge um campo de debate e estudo denominado “saúde urbana”, que reúne especialistas de diversas áreas: saúde, urbanismo, engenharia, economia, geografia, sociologia, etc...
A implementação de ações neste campo depende do envolvimento e diálogo entre as diversas partes interessadas, incluindo governo, setor privado, academia e comunidade. Instituições em todo o mundo tem utilizado como parâmetro os 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecido pelas ONU, para reorientar o desenvolvimento global no século XXI. Se busca estabelecer um novo olhar para o planejamento das cidades de forma articulada integrando especialmente os riscos. Um dos pressupostos para o alcance das metas dos ODS é “engajar pessoas” para a força tarefa, estabelecendo diálogos e parcerias com perspectiva de abordagem intersetorial. A narrativa de como os problemas ambientais incham os sistemas de saúde, gerando custos para o tratamento de doenças tem feito com que a abordagem ambiental passe a sensibilizar mais tomadores de decisão. Neste contexto estratégias para abordar os diferentes problemas relacionados ao impacto à saúde provocado pela poluição ambiental, com foco especial em alguns dos ODSs (erradicar a pobreza, melhorar a saúde, melhorar acesso à água potável e saneamento, promover justiça social, construir comunidades e cidades saudáveis, combater mudanças climáticas e proteger solo e água, respectivamente) passam a contar com diversos atores que antes atuavam de forma paralela e desconectada. Esse estabelecimento de processos para análises de riscos, utilizando bases científicas como suporte para a tomada de decisão é uma nova forma de olhar a cidade e seus problemas.
Outro elemento fundamental neste processo é a comunicação de risco que deve envolver o setor públicos, privado e sociedade civil organizada, “transpondo muros”, sobretudo para que a tradução do conhecimento possa alcançar todos os envolvidos em tempo hábil para a mitigação de riscos, no sentido de preparar as cidades para o enfrentamento de choques e tensões. As mudanças climáticas se apresentam de forma dramática aumentando a periodicidade de eventos climáticos extremos que afetam diretamente a saúde das pessoas nas cidades. Ondas de calor, de frio, ressacas, inundações e alagamentos, deslizamentos de terra, tudo acaba tendo impacto na saúde urbana. Há estudos científicos que ligam o desastre ambiental de Mariana com o aumento no número de casos de febre amarela no país por exemplo. O tempo de adaptar as cidades para essa realidade é agora e se coloca como uma grande oportunidade de tornar as cidades mais sustentáveis, saudáveis e verdes.
Artigo originalmente publicado na edição de 20/01/2018 do Jornal Correio de autoria conjunta entre:
Nelzair Vianna – Pesquisadora em Saúde Pública Fiocruz BA, Doutora pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
André Fraga – Secretário de Cidade Sustentável e Inovação de Salvador, Engenheiro Ambiental.