Batemos recorde seguidos de meses e anos mais quentes da história humana, com consequências graves já em curso, afetando a vida de milhões de pessoas ao redor do planeta com alto custo financeiro e social. Enquanto alguns gatos pingados negam a existência da crise climática causada pelas atividades humanas baseadas em um modelo de desenvolvimento carbonífero que aprofundou o aquecimento global, os mais pobres sentem na carne seus efeitos.
Na Europa milhões de hectares ardem em incêndios incontroláveis levando vidas e economias. Na Ásia inundações afogam milhões de pessoas e bilhões de dólares. No Caribe tufões e tornados levam casas e gente pelos ares. Na América do Sul chuvas torrenciais alagam cidades inteiras e, em seguida, secas colocam a segurança hídrica em risco. Se hoje o planeta vive um momento complexo com os refugiados, o que esperar em 2050 quando tivermos 200 milhões de refugiados do clima segundo projeções da ONU?
Mas ainda há como escapar. E a resposta está nas cidades. Redes de cidades como o C40 saem do discurso para a prática e, voluntariamente, governos locais já assumiram o compromisso de reduzir 2.4 gigatoneladas de CO2 equivalente. Nossa capital já é uma referência internacional em ações de sustentabilidade e resiliência climática. Não a toa hospedaremos a Semana Latino Americana e Caribenha de Clima da ONU e, durante o evento, iniciaremos o desenvolvimento do Plano Municipal de Adaptação e Mitigação as Mudanças Climáticas e lançaremos o Painel Salvador de Mudança do Clima, um IPCC soteropolitano, reunindo academia, pesquisadores e muita ciência para orientar as políticas públicas da cidade. Ações que complementaram outras já em curso como plantio massivo de árvores, a criação e implantação de novos parques, a modernização da frota de ônibus menos poluente, incentivos para a construção sustentável como IPTU Verde, IPTU Amarelo e Outorga Verde, o crescimento exponencial da infraestrutura cicloviária e o investimento em inovação transformando a Defesa Civil de Salvador em referência internacional.
Não faltam evidências cientificas de que vivemos nosso maior desafio civilizatório, mas pouco conseguimos nos mover. Por que? Há quem diga que vivemos a ilusão de que somos imunes à natureza e sua dinâmica, já que a teríamos domesticado. O Homo Sapiens, possui mecanismos de adaptação e sobrevivência cristalizados ao longo de nossa evolução, os vieses cognitivos de justificação, que nos fazem observar predadores como se estivéssemos protegidos, já que atingimos o topo da cadeia alimentar. Amarga ilusão.
Fomos levados a beira da catástrofe climática no tempo de vida de uma geração. Agora cabe a uma única geração o trabalho de evitar que ela aconteça. A nossa.
Artigo produzido por André Fraga originalmente publicado na edição impressa em 14/08/2019 do Jornal A Tarde.