A primeira capital do Brasil é uma península. Cercada de água possuímos ilhas em território municipal e o mar como parte do cotidiano do soteropolitano. É no mar que celebramos Iemanjá, ou o ano novo que chega. É no mar que nos encantamos sempre com o pôr do sol. É no mar o lazer mais simples, barato e democrático: a praia.
Mas a faixa de areia e as águas do mar foram negadas para uma parte dos soteropolitanos nos últimos anos. A praia não estava tão democrática assim. Sem rampas, pessoas com mobilidade reduzida ou portadoras de necessidades especiais não podiam ter acesso à areia ou ao mar. O desejo de um banho de água salgada tinha que contar com a mobilização de familiares ou amigos para contornar obstáculos e alcançar o lazer.
A praia de Ondina passou a representar a cidadania para essas pessoas. É lá que os obstáculos são eliminados e o mar é apenas uma opção simples, barata e democrática de lazer e alegria. Seja para um mergulho, um banho ou a prática de esportes como stand up padle, todas adaptadas e acompanhadas por profissionais. Em Ondina, acontece o ParaPraia, projeto da prefeitura de Salvador com parceiros privados que está levando a cidadania à praia. Não é so Ondina: toda a requalificação da orla de Salvador, de Tubarão à Ipitanga, contempla rampas de acesso. Essa preocupação mostra uma face da prefeitura cada vez mais presente, a da preocupação com a melhoria da qualidade de vida das pessoas, de todo e qualquer grupo social.
Pessoas como Marisa que estava vinte anos sem sentir o sal das águas do mar, passaram a retomar esse prazer abandonado. Ou Eleonora, 90 anos e já acometida pelo Alzheimer, há quatro anos não se sentia segura em mergulhar. Os parentes relatam com emoção o efeito terapêutico que essas experiências têm causado nesses banhistas que redescobrem o prazer do mar.
Mais ainda, o Para Praia se integra à uma série de iniciativas municipais, tocadas por diversos órgãos, que têm mudado a relação das pessoas com a cidade e da cidade com as pessoas. Eu Curto meu Passeio, Salvador Vai de Bike, novas praças e parques trazem de volta o prazer de estar ao ar livre, o prazer do encontro com a cidade e com as pessoas.
Essa mudança não é vista. Ela é sentida no cotidiano. Testemunhar esse reencontro com a cidadania, no caso do ParaPraia com o mar, é emocionante para quem apenas assiste percebendo a transformação que um simples banho de mar pode disparar. Imagina para quem passa a ser a transformação.
Artigo originalmente publicado na edição de 14/01/2015 do Jornal Correio.